22/06/2004

Zagallo e o nº 13

(Crônica escrita em 25/06/2005)


Ontem vi o Zagallo dando uma entrevista após receber alta do hospital em que se submeteu a uma cirurgia de reconstituição do estômago.

Mais magro, depauperado, não deixou de avocar o n.º 13 como sendo seu número de sorte. O nome do médico que o operou, José de Ribamar, é formado por 13 letras – fez questão de ressaltar.

Estou cansado de ver o Zagallo fazer essa relação com o n.º 13 como se ele fosse dotado poderes mágicos. Não sou cabalista nem supersticioso e acho que os números não têm influência nenhuma sobre nossa vida – me perdoem os que acreditam.

O n.º 13 é comumente relacionado ao azar e há prédios nos Estados Unidos em que ele não existe: do 12 passa-se diretamente ao 14, o que é o cúmulo da imbecilidade. O andar n.º 13 existe fisicamente, só que é apelidado de 14. Ou 12-A.

Lembra a história, corrente nos meios jurídicos, do cara que atingiu a maioridade e quis trocar de nome porque não gostava dele. Nem poderia gostar: chamava-se João Bosta. Foi falar com o Promotor – naquele tempo os promotores podiam ajuizar determinados tipos de ação – e expôs a situação. Anotados os fatos para justificar o pedido, o promotor perguntou o nome que João Bosta queria adotar. Ele foi rápido: Pedro Bosta. Quer dizer, o problema não era o sobrenome era o prenome. No caso do edifício o problema não é a colocação física do andar, mas o indicativo numeral de sua (falsa) posição.

Eu não acredito que o n.º 13 dê azar embora esteja digitando, agora, só com a mão esquerda (é difícil digitar com a direita quando se faz figa com ela).

Pelo contrário, embora sem lhe dar maior importância da que dou a outros números, gosto dele: foi num dia 13 que nasceu minha filha. Tenho um irmão que nasceu também num dia 13. E a minha sogra, idem. Ops! Se vocês a conhecessem não estariam com esse sorriso de ironia na cara (pelo menos não na frente dela)... O único prêmio que ganhei numa rifa até hoje foi com o n.º 13, numa festa de igreja: uma daquelas bolas de vidro com água e uma rosa de plástico vermelha no interior. Como era muito grande para jogar boco, e além disto tinha um pedestal e não rolava direito, dei para minha mãe.

Mas com respeito ao Zagallo, se o n.º 13 lhe fosse tão dadivoso, a copa de 1974 seria nossa. Ele, o 13, não teria jogado do lado do adversário, como jogou.

O Brasil foi desclassificado pela Holanda por um gol marcado por Neeskens, o n.º 13 deles, aos 6 minutos do primeiro tempo e outro por Cruiyff, aos 20 minutos do segundo tempo. Seis mais 20 = 26. Foram dois gols. Então, 26 ÷ 2 = 13. Neskeens foi substituído por Israel aos 39 minutos do segundo tempo. Como já usamos o 2 da divisão anterior, vamos implementá-lo de um, pois foi apenas uma divisão: 39 ÷ 3 = 13. As seis letras de BRASIL e as sete de HOLANDA – uma comparação que o Zagallo gosta muito de fazer – somam 13.

Então, se você quiser, e com um pouco de esforço de pesquisa e paciência para cotejar e relacionar dados vai encontrar muita coisa a seu redor relacionada ao n.º 13. Ou ao 12. Ou ao 20. Ou a qualquer um. Basta se dispor a coletar dados e fazer continhas simples.

Essa mania do Zagallo só demonstra que muitas de nossas conquistas futebolísticas, na ótica de alguns técnicos, repousam mais no empirismo supersticioso do que em princípios táticos e estratégicos do esporte.
Em suma: a grande maioria dos técnicos é enganadora mesmo e os nossos louros se devem principalmente à excelência dos jogadores.

Não sei se você reparou, mas o título deste post tem 13 sinais gráficos...

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