20/09/2008

DESARMADO MAS RICO!

VOU ENRIQUECER COM O DESARMAMENTO...







Como disse outro dia, a fortuna está sempre na minha frente mas não consigo alcançá-la. Agora surge uma perspectiva real de eu me tornar um ricaço, principalmente depois de pesquisa do IBOPE apurar que 81% dos brasileiros são a favor do desarmamento.

Em Iraí, minha primeira Comarca, às beiras do Rio do Mel, habita uma tribo de caicangues e com ela vou estabelecer as relações negociais que me deixarão milionário.

Vou entrar com a idéia e convencer o cacique – no meu tempo era o Sebastião – a montar uma fábrica de bodoques de alta precisão, com flechas dotadas de mecanismo automático de direcionamento. Algumas terão pontas de aço e outras, mais eficazes, um mini-coquetel molotov na ponta.

Coquetel molotov não entra na proibição legal, desde que usado para defesa. Querem um exemplo? Em 28/01/2005, durante o Fórum Social Mundial, foram presos aqui em Porto Alegre 43 punks com “trinta coquetéis molotov prontos, cerca de 250 gramas de pólvora, explosivos caseiros e bastões sinalizadores”. Alegaram que o arsenal seria utilizado “para se defender dos ataques feitos com freqüência por skinheads” e foram liberados. Alguma dúvida?

É certo que na época foi atirado um coquetel molotov no Bank of Boston, na Av. Praia de Belas, próximo ao acampamento do Fórum, e houve outro ataque a uma agência do Banrisul. Esses fatos, de legítima defesa contra a ameaça capitalista, só confirmam o caráter autodefensivo da arma (se os punks portassem revólveres seriam presos em flagrante por delito inafiançável).

Estou pensando, até, em desenvolver com o Sebastião, ou com seu sucessor, um arco de repetição, o que facilitaria muito o uso. Um arco-metralha!

A proibição de vender armas de fogo vai ser aprovada. Mas os bandidos continuarão armados e nós, para nos defender, teremos que nos armar, de um jeito ou de outro. Atirar facas exige treino, dedicação e esforço. Não tenho condições de fazer tanto exercício por questões de saúde. Um arco de repetição é a solução ideal.

Claro que vamos aprimorá-lo para que ele tenha dimensões mínimas e aproveitamento máximo. Talvez com mecânica semelhante – mas não igual – à de uma balestra. Como esta já existe e há fabricantes no mundo inteiro eu não conseguiria enriquecer se me limitasse a copiá-la. Poderia até sofrer um processo por contrafação.

Penso, também, em fabricar coquetéis molotovs de bolso para defesa pessoal. Será um produto mais artesanal e vou vendê-los no camelódromo em que se transformou o centro de Porto Alegre.

Deixarei alguns estrategicamente colocados em minha casa e uns dois ou três no carro. Para defesa pessoal, repito. Sei. Enfrentar um bandido armado de revólver ou fuzil com uma garrafa combustível é algo meio primário e comunista, mas como juiz aposentado não posso dar mau exemplo. Tenho que cumprir as leis.

Se um coquetel molotov é considerado um instrumento legal de defesa e um revólver não, vamos nos adaptar. Talvez algum dia tenhamos que nos defender de agressores que posem de bandidos sem ser bandidos.

Aceito sócios para a fábrica de arcos. Se você se interessar deixe um comentário, digite o código secreto "EQSS" e informe seu e-mail. Entrarei em contato informando o número de minha conta bancária para depósito. Será um negócio absolutamente transparente e não será preciso usar malas ou cuecas.

Malas, só depois, para transportar o dinheiro que você ganhar. Afinal, estou lhe oferecendo a oportunidade ímpar de enriquecer comigo. Seu investimento proporcionará lucros consideráveis. Vamos entrar no círculo restrito dos colunáveis, passar uma temporada no Castelo de Caras, aparecer na revista, comer caviar e viver sem se preocupar com o passado.

Por isto não aceito depósito inferior a R$ 50.000,00.





Publicada originalmente no blog Jus Sperniandi,
em 21/07/2005.
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MEGALOMANIA PATRIÓTICA

SONHOS DE UM MEGALÔMANO, MAS PARA O BEM DA PÁTRIA...



Às vezes tenho a sensação de que me está reservada, ainda, apesar da idade e da aposentadoria, a realização de grandes feitos para a humanidade ou, pelo menos, para o Brasil.

Vejam a minha idéia de abrir uma fábrica de arco e flechas de repetição, que publiquei neste blog no dia 21/07 (Vou Enriquecer com o Desarmamento!), que nos permitirá a defesa contra os bandidos face à previsível proibição do comércio de armas e munições. Ela vai me enriquecer e a todos aqueles que tiverem a ousadia de se associar no empreendimento.

Mas estive pensando, porque para montar esse tipo de empresa é preciso cautela e análise redobradas, e meu pensamento solertemente desviou-se para uma possibilidade inicialmente não prevista: minha humilde e aparentemente simplória fábrica poderá provocar a emergência do Brasil como potência mundial, mas isto vai demorar ainda; ninguém conquista o mundo da noite para o dia.

É preciso, também, um pouco de pessimismo, artigo difícil de se encontrar hoje no mercado social mundial porque passamos pelo melhor período da História Universal, como já disse outro dia ao Túlio. Não são detalhes como a Guerra do Iraque, o conflito árabe-israelense, os atentados terroristas em Londres e na Chechênia, a loucura explicita de presidentes como o da Coréia do Norte e, mais aqui perto, a degringolada do PT, a guerra entre traficantes e a violência diuturna que vão acabar com essa sensação de segurança, paz e tranqüilidade.

Por isto, apesar de tudo, temos que ser inicialmente pessimistas para chegarmos ao status de uma grande potência.

Primeiro, temos repor a Direita no poder. Com isto desviaremos a atenção dos americanos. Com um governo de Esquerda, estamos sendo vigiados e isto, para os fins deste artigo, não é nada bom. Com a Direita no poder a grande potência do Norte se esquecerá de nós e quando emergir a terceira guerra mundial não lembrará que existimos e não jogará alguma bomba sobre nossas cabeças. Talvez até possa atingir grandes centros, como Rio, São Paulo, Belo Horizonte, mas a minha fábrica vai ser instalada em Iraí, bem no interior do Rio Grande do Sul, como já disse.

Isto será o começo de nossa dominação do mundo.

Um dia, após a II Guerra, explodidas Hiroshima e Nagasaki, perguntaram a Einstein como seria a terceira guerra mundial. A resposta foi mais ou menos assim: “a terceira eu não sei. Mas a quarta, seguramente, será com paus e pedras”.

Perceberam a nossa vantagem? As grandes potências de hoje aniquilarão umas às outras. Os meus arcos de repetição e minhas flechas com pontas de aço e coquetéis molotov estarão tão desenvolvidos e aperfeiçoados que não encontrarão similar no mundo.

Lamentavelmente teremos que guerrear, mas por pouco tempo. Venceremos logo graças à nossa supremacia de forças. Os inimigos, com paus e pedras, não serão páreo para os nossos sofisticadíssimos bodoques e nossa destreza em manejá-los. Venceremos a IV Guerra Mundial, conquistaremos outros países, dominaremos o mundo e implantaremos, impositiva mas democraticamente (algo assim como os americanos estão fazendo no Iraque), o nosso modo de vida e o nosso sistema de governo.

Só então não haverá mais guerra. A paz será verdadeira e abrangente, pois colocaremos administradores brasileiros para governar os países conquistados. Sempre fomos avessos a guerras e isto bastará para a paz duradoura e contínua.

A corrupção, uma de nossas características principais há muitas gerações, ao contrário do que parece, será benéfica. Nela estão agasalhadas as plenas condições de paz: os corruptos gostam de ganhar dinheiro fácil e por isto não são belicosos... No máximo ameaçam por telefone, mas, então, este ainda não terá sido reinventado.



Publicada originalmente no blog Jus Sperniandi,
em 28/07/2005.
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18/09/2008

ESTRELAS

Alberto Lisboa Cohen


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Cada estrela que brilha é uma promessa,
um sinal de esperança e novo alento
para os que vivem pelo encantamento
de todo novo sonho a ser sonhado.
Aos olhos do menino que não cresce,
o amor que é tão velho não envelhece,

cometas enamoram-se de luas
e botos acasalam com sereias.
E a estrela da manhã quando aparece,

mais brilhante que todas as estrelas,
é como o olhar de Deus que reconhece

em cada um de nós a Sua criança,
em todos nós Sua imagem, semelhança.



Alberto Lisboa Cohen
caminhos de não chegar
Prêmio IAP de Literatura 2005
Instituto de Artes do Pará,
página 42.
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