04/04/2020

EM BRASÍLIA SEM LULA, MAS COM GLAUCO E FAMILIARES


Definitivamente, estive em Brasília e saí do aeroporto. A imagem aí em cima é prova cabal disto. Quem não vai ao Bar Brasília nem come as trufas da dona Cirônia jamais poderá dizer que esteve lá. Mesmo que encontre Lula e todo o seu staff, o secreto e o visível.
Fomos recebidos – a Ieda e eu – pelo Glauco e por meu genro. Este levou nossas malas para o apartamento e o Glauco levou as outras, digo, levou-nos a um tour pela Capital no seu carro especialmente preparado para nos receber, reluzente a ponto de produzir nas nuvens da cidade o reflexo iridescente captado abaixo.  Aliás, o céu de Brasília é de um azul magnífico, daqueles que você não precisa regular a máquina fotográfica para ele parecer realmente azul.
Visitamos o memorial JK, passamos pela Esplanada dos Mistérios – onde se enfileiram os enigmáticos ministérios criados para resolver nada, exceto aquilo que se resolve sem intervenção governamental – e, finalmente, a Praça dos Três Poderes. Peguei no cabo da espada da Themis e o Glauco me fotografou para que meus descendentes tenham uma prova de que fui magistrado. 
A Themis – para quem não lembra, a deusa grega símbolo da Justiça, com venda nos olhos e segurando uma balança na mão esquerda e uma espada na direita – me pareceu tristonha e aflita: está sentada e com a espada estendida no colo, sem demonstrar intenção de usá-la adequadamente. A balança, ao que consta, foi furtada. Acho que aí reside a principal causa da impunidade no Brasil.
Depois, com meu genro, fomos ao Bar Brasília, do luminoso lá em cima. Foi desenhado pelo Ziraldo. Petiscamos e, logo em seguida, partimos para o que foi a principal e mais aconchegante atividade do dia.
Gosto de encontros pessoais mais do que de lugares. Por isto, cientificado que depois conheceríamos a mãe do Glauco e sua irmã, suportei com satisfação o passeio pela cidade.
Fomos à casa do Glauco para a sobremesa. Foi uma recepção calorosa. Lídia Valéria, a mãe dele, é uma senhora agradabilíssima. Nem havíamos entrado na residência e já nos sentíamos íntimos, no bom sentido. Sua irmã, Stella, que é médica renomada no ramo da Eletrocardiografia, chegou logo depois e me senti mais tranqüilo (ela é muito bonita e mais, por discrição, não digo).
Ofereceram-nos os doces da dona Cirônia, entre eles trufas generosas e lindíssimas. Fui polidamente mal-educado recusando prová-las porque evito, à noite, alimentos estimulantes, como o chocolate. Mas experimentei outros doces. Minha má educação aumentou quando o Glauco preparou, na hora, taças de um café expresso que me pareceu muito saboroso. A Ieda e meu genro confirmaram. Mas consegui me recuperar da falta de educação, sendo mais mal-educado ainda: aceitei algumas trufas, levei-as para o apartamento à moda farnel, e provei-as no dia seguinte. Caso contrário, não poderia atestar sua excelente qualidade. 
Lula não encontrei, apesar de o Glauco ter comentado o contrário no post anterior. Intriga! Ele deve ter um sentimento latente de simpatia pelo Lula e está tentando transferir responsabilidades.
O Glauco fez uma observação muito adequada quando estávamos na Praça dos Três Poderes: quem vê a beleza peculiar de Brasília chega a esquecer as trampolinagens que lá acontecem. É algo que nem o PT conseguiu estragar.
Foi bom não ter encontrado Lula. Nada estragou o meu dia, ou meio-dia, como queiram, que foi maravilhoso do jeito que foi. Ele não estava em Brasília, mas num de seus comícios no Rio. O que confirma o que é voz corrente por lá: se você quiser encontrar o presidente, fique na sua cidade que mais hora menos hora ele aparece.
Estou pensando em transferir residência para Brasília...



Publicado originalmente no blog Jus Sperniandi,
em 28/02/2008