12/07/2008

TAMBÉM QUERO MENSALÃO

Ouvi, hoje, que no Rio de Janeiro, uma universitária recebeu indenização por dano moral por ter sido chamada de “gorda” por um professor de Direito.

Ela saiu da sala, deixou o gravador ligado, e ao voltar percebeu que riam dela. Depois ouviu na gravação que o professor comentou que o gravador representava a inteligência artificial usada para o estudo, enquanto a dona saia da sala para ir à cantina comer alguma coisa e engordar.

Não achei tão ofensivo assim. Foi um comentário infeliz, talvez. Mas atualmente tudo é motivo para exigir reparação a esse título. A cartilha do Nilmário Miranda sobre o politicamente correto foi adotada oficiosamente. Li, até, que os deputados do PL vão entrar com uma ação de indenização por danos imorais, digo, morais, contra o deputado Roberto Jefferson, que os acusou de participar do esquema mensalão.

Aliás, Roberto Jefferson já foi gordo, lembram? Fez uma cirurgia de redução do estômago e emagreceu 60 quilos. Foi seu maior erro. Os gordos são geralmente confiáveis e até por injunção física não podem se dedicar a certas atividades facinorosas com a mesma desenvoltura de um magro.

Nunca julguei um ladrão gordo que tivesse praticado um furto mediante escalada – por exemplo – e os batedores de carteira geralmente também são magros: precisam de preparo físico para correr caso sejam flagrados.

Aliás, condenei um gordinho, certa vez. Ele tentou arrancar a bolsa de uma mulher, que reagiu com a eficiência de toda mulher, isto é, aos gritos, assustando-o. Ele correu e ao atravessar a rua foi pego por um veículo que por acaso era de um Delegado da Polícia Federal... Além de gordo, azarado. O dano maior foi no capô do carro.

Eu sempre fui gordo, desde a infância, e além de gordo, ruivo e sardento. Em resumo, feio! Essas características motivavam gozações de colegas, algumas humilhantes. Se fosse cobrar pelos constrangimentos sofridos estaria riquíssimo.

Certa ocasião voltava da aula, assobiando, e na minha frente iam dois empregados da oficina mecânica de meu pai. Ouvi um dizer alto, após me ver:

– Hoje vai chover. Tem bugio assobiando. E quando bugio assobia na serra é sinal de chuva. Se o bugio é gordo, é trovoada na certa!

Para quem não sabe, bugio é um símio de pêlo avermelhado e aquela observação doeu fundo.

Noutra, ainda, eu tinha vestido calção para jogar futebol e o tio de um colega observou:

– Puta que o pariu! Olha só as pernas desse animal!

Eu era gordo do tipo pícnico e minhas pernas eram muito grossas. Envergonhado, corri para casa e nunca mais usei calção. Desisti do futebol, eu que tinha planos de me profissionalizar. Poderia ter jogado tranqüilamente até à Copa de 1982 e não deixaria o Paulo Rossi fazer o que fez com nossa seleção. O Brasil perdeu um grande jogador. Bem feito!

A obesidade é um problema mais de ordem psicológica do que física na infância e na adolescência. Na universidade eu havia superado esses traumas. Mas nem todos conseguem. Ontem, ainda, o presidente Lula, ao receber o Ronaldinho, usando da sensibilidade paquidérmica que lhe é peculiar, comentou que o atleta está mais gordo que ele... Mais tarde, pronunciando-se a respeito da corrupção galopante no governo, que eclodiu com as denúncias do ex-gordo Roberto Jefferson, disse que, se for preciso, na apuração das irregularidades, “cortará na própria carne”.

Não é preciso, presidente! Um bom programa de reeducação é suficiente para enxugar adiposidades maléficas. Estou falando de reeducação alimentar para emagrecer. Eu emagreci 21 quilos!



Publicado originalmente no blog Jus Sperniandi,
em 08/06/2005.
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