25/10/2008

PROGRAMA DE ÍNDIO

Há algum tempo postei uma matéria visando cooptar investidores para uma fábrica de arcos e flechas em Iraí, já que vão acabar proibindo armas de fogo para todos os brasileiros, exceto para os facínoras (Vou Enriquecer com o Desarmamento). Assim, para nos defender, vamos ter que, num processo concomitantemente liberal e regressivo, voltar à era das armas primitivas.

Alguém deve ter lido o meu post e, muito espertamente, lançou a semente da minha fábrica explorando um segmento social muito mais rentável: o infantil, cujo poder de chantagem amplamente divulgado e sugerido pela mídia como forma de convencer os pais é seguramente um dos mais lucrativos do mercado.

Quem não lembra da propaganda em que o pai, além de agüentar o filho na garupa num shopping, suportava uma bronca estrepitosa porque o garoto queria um brinquedo? O pai era dupla e amestradamente montado. Essas propagandas são muito educativas.

Pois a IstoÉ Dinheiro de 28/09/2005, página 18, na coluna de Rosenildo G. Ferreira, sugestivamente chamada de “Empresas do Bem”, informa que a fábrica Rosita está lançando uma série de brinquedos inspirados na cultura indígena: “Zarabatana, machadinha e arco e flecha são alguns itens da linha Wakay”.

Nada mais adequado. Afinal, já que no futuro não vamos ter armas de fogo para defesa é bom que as crianças se familiarizem desde cedo com essas que serão o supra-sumo da modernidade. Depois, evidentemente, que eu abrir a minha fábrica para municiar os adultos. Preciso me aligeirar.

Defendo a tese – e já disse isto aqui – que se brincar com armas de brinquedo, na infância, tornasse um adulto bandido eu seria um dos mais perigosos, pelo muito que brinquei de caubói. O Guédi e eu, sozinhos, nos domingos à tarde, matávamos mais índios do que poderiam existir na face da terra no tempo das diligências. O Guédi formou-se em Teologia e é hoje um piedoso pastor da Igreja Evangélica de Confissão Lutherana... O que acabou convivendo mais com a bandidagem fui eu, mas em razão de minhas funções de Juiz. E da nossa turma toda apenas um, depois de adulto, esfaqueou um terceiro numa cancha de bocha, em Taió. Pelas costas, mas insisto: em legítima defesa.

Brincar de arco e flecha, zarabatana e machadinha – talvez até de tacape, lança e borduna – não incita à violência, mas à vida pacífica e tranqüila dos nossos índios que usavam essas armas para brincar de guerra.

Como eu disse em outro post (
Sonhos de um Megalômano...), complementar ao primeiro, talvez algum dia conquistaremos o mundo por dominar a arte de fabricar arcos e flechas de extrema precisão.

Ou, talvez, acabemos vivendo em ocas sob o comando do cacique Lula-Nove-Dedos. O pajé Zé-Cada-Vez-Mais-Convencido-de-Inocência será o chefe do Conselho dos Anciãos.




Publicado originalmente no blogue JUS SPERNIANDI,
em 29/09/2005.
.