Há uma bem engendrada campanha contra o Poder Judiciário. Uma intolerância cósmica. Ele já foi amordaçado por um conselho externo que não faz mais do que não poderia ser feito sem ele e com menos exuberância. Mas como no Brasil a exuberância é superlativa e abundante (vejam as dançarinas do tcham) ele vale como intenção de provar que a Justiça se faz dentro da Justiça, o que não é um afirmativa pela qual eu colocaria a mão no fogo da lareira ali na frente.
A Xuxa diz que já viu duendes. Se não me engano, no jardim da casa dela, há duendes. Ninguém a considera louca e mantém ainda hoje a coroa – coroa é bem adequado, não acham? – de “rainha dos baixinhos”. Não consta que tenha prejudicado alguém, embora, no meu sentir, seja a expressão máxima da dissimulação que a Globo consegue nos empurrar goela abaixo.
Outro, o Peninha, também conhecido como Eduardo Bueno, se travestiu de historiador e lançou livros de História do Brasil em que não disse nada mais do que aprendêramos no Primário. É tido como grande historiador. Ele também confessou que viu duendes e afirmou que numa encarnação anterior foi vento... Acho que sobrou um pouquinho no interior do crânio.
Não sei se alguma escola adotou seus livros. É provável que não. Mas fizeram sucesso, tanto sucesso que até eu comprei os três volumes da Terra Brasilis. Não sei se ele continua repetindo o que já disse em outros.
A Mônica Bonfiglio, num dos Programas do Jô, via anjos por todos os lados. Apontava: “ó, ali tem um; lá tem outro!” Como ando mal das vistas e a tela da minha televisão tem apenas 42 polegadas (brincadeira, tem 28 ou 29) e porque provavelmente estava sem óculos, não vi nenhum. O Jô Soares, pela cara que fez, também não. Houve uns sorrisinhos imprudentes na plateia, mas ela não foi desmentida é uma horoscopista de escol.
Já o juiz, quando julga, é um ser absolutamente solitário (não estou falando de desembargador, que sempre conta com outros dois, geralmente vaidosos conservadores que se acham liberais, para atrapalhar).
O Juiz da notícia aqui contava com o auxílio de três duendes – Armand, Luis e Angel – para ver o futuro e julgar. Prever o futuro foi coisa que nunca consegui na minha vida de juiz. Aliás, nem o passado posso prever, digo, rever com acuidade porque muita coisa se perdeu nos refolhos do meu cérebro cansado. Foi afastado de suas funções. É ou não é uma conspiração cósmica contra o Judiciário?
Mas confesso – sou aposentado e agora posso me dar ao luxo de dizer disparates com proverbialidade – também usava entidades para me ajudar a julgar. Mas não tive a criatividade de nominá-las. Todas podem ser consideradas, em sua essência e origem, tão abstratas quanto os duendes do juiz filipino. Ou tão concretas quanto... São a Lei, a Prova do Processo e, principalmente, a minha Consciência.
Claro, às vezes pedia auxílio aos meus botões, ou aos meus zíperes, ou aos meus velcros – conforme o traje –, o que é muito mais grave e denota mais demência do que conversar com duendes e anjos.
Se a realidade judicial filipina for tão feia como a daqui, é possível que eles tenham afastado seu melhor magistrado. Porque, para ser juiz hoje, no Brasil, tem-se que ser minimamente louco.
Para sobreviver mentalmente são, só se valendo do auxílio de duendes. Ou de Lexotan, ou Prozac, ou Lítio, outra santíssima trindade auxiliadora.
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