O sistema de codificação-decodificação da linguagem pode criar confusão e afastar pessoas mesmo quando seu objetivo é exatamente o contrário. Como pode, também, dar margem a interpretações dúbias e induzir em erros.
Já escrevi aqui sobre o anúncio de uma cerveja que, no final, recomenda: aprecie com moderação. Tentei demonstrar que a mensagem não orienta a que se deva beber com moderação, mas a apreciar com moderação, o que é muito diferente. Você pode beber até cair mas ter apreciado apenas moderadamente a bebida.
Ontem à noite estava esperando o jogo do Corinthians contra o Sorocaba... Fazer o quê? Cada um acompanha o time pelo qual torce nas grandes e nas pequenas campanhas. Pelo menos nas pequenas a gente pode ter a sorte de pegar uma vitória, o que está difícil com o Corinthians.
A outra opção, bem menos alienada – se quiserem assim –, era o show de abertura do Fórum Social Mundial. Mas a TVE, que o transmitia, ainda não aprendeu a calibrar um som audível nas transmissões ao vivo. Estava horrível, com uma interferência indesculpável. De vez em quando uma interrupção com a mensagem “no signal received” na tela. Sem contar que entre rock indiano e jogo do Corinthians, mesmo que seja contra o Cacique ou o União (dois times de Taió), prefiro a segunda opção.
Mas como dizia, esperava o jogo do Corinthians contra o Sorocaba, com o teclado no colo e navegando, e me chamou atenção uma publicidade oficial para o Carnaval que vem aí. Várias celebridades, capitaneadas pela Daniela Mercury, aconselham os homens a usar camisinha sempre. Sem qualquer ressalva.
Ora, sempre, não! A mensagem deveria ser mais clara ou, pelo menos, não tão obscura. Imagine o garotão, ainda adolescente, saindo para o carnaval e reclamando:
– Ô manhê! Vem aqui. Ajuda arrumar essa camisinha. Ela está apertando no colarinho. Esta não, esta já usei ontem.
Esse use sempre lembrou-me de uma piada que, se não me engano, andou correndo pela Internet. Se não, que comece agora.
O estancieiro não agüentava mais as queixas da mulher: era todo ano um filho e o casal já tinha uns quinze. Ele foi ao boticário, expôs a situação. Naquele tempo, anticoncepcionais só mediante prescrição médica. O farmacêutico receitou camisinha. Explicou como se usava e foi incisivo: use sempre! O gauchão se interessou e, abonado dos trocos, comprou logo todo o estoque, para se garantir.
Dois meses depois retornou à farmácia, revoltado e mais brabo que mamangaba amarela. Jogou um resto de camisinhas no chão, quebrou o chapéu na testa e desafiou:
– A mulher velha tá prenhe de novo. E agora, o que é que tu me dizes, índio velho atochador?
O boticário, amedrontado mas experiente, foi levando na maciota, acalmou o gaúcho e, então, perguntou:
– Mas o senhor fez certinho como eu mandei?
– Mas claro, tchê. Tá duvidando da minha pessoa?
– Não, não. Só estou estranhando. Tem certeza de que usou sempre?
– Sempre sempre! Só tirava prá mijar e prá comer a patroa.
Então, você que vai cair na farra neste Carnaval, não precisa levar a orientação governamental ao pé da letra. Não é necessário usar a camisinha sempre. Aliás, é mais importante que você só a use quando for fazer sexo.
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