28/02/2020

UM MONGE

Ilton Carlos Dellandréa





Ontem, quando te vi,
na Praça da Matriz,
com tua roupa branca,
teus cabelos brancos e reluzentes
puxados para trás,
teus dedos brancos
e sapatos enormes, pretos,
tive pena de ti.

Tua batina branca colada ao corpo branco
e magro,
larga demais e engomada:
não sei se eras anjo
ou alma penada.

Tive pena de ti,
pelos cinquenta anos que passaste
longe da vida profana.

Tristonho como um avô sem netos,
os olhos macios, os passos retos,
lentos e firmes,
não sei se eras mundano
ou sublime.

Ontem, quando te vi,
na Praça da Matriz,
branco em tudo, menos nos sapatos,
tive inveja de ti,
pelo meio século que passaste na serenidade
da tua vida sacerdotal.

Não sei se és santo,
ou anormal.

Nem se nos espera a mesma Eternidade. 



 (Porto Alegre, 02 de abril de 1982).
 (Taquara, 25 de novembro de 1987)

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