Ilton Carlos Dellandréa |
Ontem,
quando te vi,
na
Praça da Matriz,
com
tua roupa branca,
teus
cabelos brancos e reluzentes
puxados
para trás,
teus
dedos brancos
e
sapatos enormes, pretos,
tive
pena de ti.
Tua
batina branca colada ao corpo branco
e
magro,
larga
demais e engomada:
não
sei se eras anjo
ou
alma penada.
Tive
pena de ti,
pelos
cinquenta anos que passaste
longe
da vida profana.
Tristonho
como um avô sem netos,
os
olhos macios, os passos retos,
lentos
e firmes,
não
sei se eras mundano
ou
sublime.
Ontem,
quando te vi,
na
Praça da Matriz,
branco
em tudo, menos nos sapatos,
tive
inveja de ti,
pelo
meio século que passaste na serenidade
da
tua vida sacerdotal.
Não
sei se és santo,
ou
anormal.
Nem
se nos espera a mesma Eternidade.
(Porto Alegre, 02 de abril de 1982).
(Taquara, 25 de novembro de 1987)
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