27/09/2008

VERDES VERDURAS

Cruz e Souza



Neste fim-de-semana frio e úmido, comigo em minhas recônditas quietudes, adentrei nos domínios da poesia e encontrei uma excelente página de Literatura do professor Sérgius Gonzaga. Interessei-me pelo Simbolismo, sabedor, pois sou de Santa Catarina, de que um de seus mais conceituados representantes no Brasil é Cruz e Souza (na ilustração), um catarinense.

Segundo o professor Sérgius, os primeiros indícios do movimento encontram-se em Baudelaire, cuja obra máxima, As Flores do Mal, antecipa certas perspectivas simbolistas.

Mais: O Simbolismo surgiu não apenas como uma estética oposta à literatura (poesia, especificamente) objetiva, plástica e descritiva, mas como uma recusa a todos os valores ideológicos e existenciais da burguesia. Em vez da "belle époque" do capitalismo financeiro e industrial, do imperialismo que se adonava de boa parte do mundo, temos o marginalismo de Verlaine, o amoralismo de Rimbaud e a destruição da linguagem por Mallarmé.

O Simbolismo surgiu como Escola literária na França, no final do século XIX, como reação aos excessos do parnasianismo. Sua característica principal é uma visão subjetiva, simbólica e espiritual da realidade. Usa formas de expressão novas e a preocupação estética domina sua linguagem.

O professor Sérgius: O Simbolismo no Brasil é um movimento que ocorre à margem do sistema cultural dominante. Seu próprio desdobramento aponta para províncias de escassa ressonância: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. É como se o gosto dos poetas da escola por neve e névoas, outonos e longos crepúsculos exigisse regiões frias e nebulosas.

A livre associação faz coisas impensáveis! O fim de semana esteve frio e úmido e os simbolistas apreciavam neve e névoas, e regiões frias e nebulosas.

Já disse várias vezes aqui que aprecio o frio e a chuva, a névoa e a neve, desde que, obviamente, esteja bem agasalhado e protegido em casa, preferencialmente com uma lareira acesa e ouvindo, como ouviu Cruz e Souza,

“Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpia dos violões, vozes veladas
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas”.

Na minha divagação poética, deparando com essas condições geográficas tão importantes ao desenvolvimento do movimento, me descobri um simbolista retardado, digo, retardatário. A Musa baixou em mim, senti um estremecimento misterioso, e fiel aos princípios escolásticos pari os versos que seguem, prenhes de simbolismo e ao mesmo tempo um retrato de coisas recém ocorridas e inutilmente escondidas em até agora infrapartidárias cuecas:

VERDES VERDURAS

"Verdinhas veladas em vetustas vestes,
Volúpia dos vilões, verde ventura,
Viajam nos velhos vértices velados,
Vindas da venda de vívidas verduras".

Cruz e Souza, e os outros simbolistas, que me perdoem.





Publicada originalmente no blog Jus Sperniandi,
em 19/07/2005.
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