29/09/2008

Ó SINO DA MINHA ALDEIA

[88] - [1913]

Fernando Pessoa


Ó SINO da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.

E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.

Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho.
Soas-me na alma distante.

A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.





Fernando Pessoa
Cancioneiro
in Fernando Pessoa,
Obra Poética,
página 149,
Companhia José Aguilar Editora (1974).
.

Nenhum comentário: