02/09/2008

SONETO DE VÉSPERA

Vinicius de Moraes











Quando chegares e eu te vir chorando
De tanto te esperar, que te direi?
E da angústia de amar-te, te esperando
Reencontrada, como te amarei?

Que beijo teu de lágrimas terei
Para esquecer o que vivi lembrando
E que farei da antiga mágoa quando
Não puder te dizer por que chorei?

Como ocultar a sombra em mim suspensa
Pelo martírio da memória imensa
Que a distância criou — fria de vida

Imagem tua que eu compus serena
Atenta ao meu apelo e à minha pena
E que quisera nunca mais perdida...

Oxford, 1939


Vinicius de Moraes
Poemas, Sonetos e Baladas
Companhia das Letras, 2008,
página 81.
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Um comentário:

Gina disse...

Como este sabia escrever sobre as dores do amor, não é? E como sabia amar e namorar pelo que contam. Sou de um tempo em que ainda assisti ao vivo Vinicius dando entrevistas ou cantando. Podia ter durado mais o danado se tivesse se cuidado.

Bjs