11/09/2008

O PEQUENO NADADOR

Carlos Saldanha Legendre





(a Antônio Augusto Fagundes)
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Era tão belo o filho (porque filho)
desde o nascer, quando o entronara ao peito.
Implume e frágil, se esbatera ao leito,
ó pássaro de brisas e junquilhos!

Talvez não fosse igual a outros filhos
porque só de esperanças fora feito.
Buscara o mar e o abismo de tal jeito,
mais parecia peixe com seus brilhos.

Mas era só humano e a luz tão pouca
ao fundo d'água... Deus, que força a fez
arrancá-lo do vórtice? Sem roupa,

trazendo-o contra o colo, em ânsia louca,
como o gerando por segunda vez,
a mãe lhe sopra vida pela boca.




Carlos Saldanha Legendre
Inventário do Canto,
(2.ª edição – revista e atualizada)
Cultura Contemporânea
Porto Alegre 2000

página 32.
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