22/05/2008

CONHECI UM POETA

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Domingo passado eu conheci um poeta. É a primeira vez que ouso dizer isto. É a primeira vez que ouso dizer que conheço um poeta porque conheço alguns que se dizem poetas, mas não são.

Dizer que ele respira poesia é cair em indesculpável lugar comum. Mas é verdade. Então devo acrescentar que ele respira poesia juntamente com a fumaça dos cigarros que fuma quase sem intervalos.

Tem suas idiossincrasias. Não gasta um tostão para publicar seus livros.


Publicou três – Poemas sem Dono, Caminhos de Não Chegar e Juntando Pegadas –, porque com eles obteve o 1.º lugar em concursos em que o primeiro prêmio era exatamente a publicação.

Afora isto, tem muitas poesias esparsas por esse Brasil afora, em coletâneas e seleções

O primeiro livro – Poesia sem Dono – foi inscrito em concurso por iniciativa de seus filhos. Ele, por si, não se importava com isto. Tem mais de seiscentas poesias escritas e um livro só de sonetos – essa armadilha tormentosa e formalmente restritiva e que desafia a criatividade de todo o poeta – que aguarda um concurso exclusivo para que ele possa inscrevê-lo, obter o primeiro lugar e publicá-lo.

Honestamente, o poeta que conheci não tem jeito de poeta. Ele não tem nada daquela assepsia quase caricatural de um Drummond ou da feição mortiça de um Manuel Bandeira ou da ingenuidade passeriforme do nosso Mário Quintana. Enfim, o que ele efetivamente é está nos seus livros.

Detestei a poesia dele. Isto não diminui sua qualificação tampouco o valor de seus poemas. Definitivamente, não suporto alguém que tenha menos jeito de poeta do que eu – ainda que só eu o ache – seja também um poeta superior, infinitamente superior, mesmo que os meus belíssimos poemas estejam guardados a sete chaves nos refolhos de minha alma e de lá, agora, dificilmente sairão.

Por isto detestei a poesia dele. Não sinto capacidade de escrever o que ele escreve e como escreve. Ele tem o árduo poder de unir quantidade e qualidade. Eu não tenho poder nenhum e agora ele está ainda menor.

Estou falando de Alberto Lisboa Cohen, um paraense que está mudando para Porto Alegre. Querem saber mais dele? Perguntem prá Tânia, do Plátanos. Mas guardem esse nome, vocês que gostam de poesia. Ele ainda brilhará, e acho que não vai demorar, na parca constelação dos poetas brasileiros, da qual me desincluo com o rabo entre as pernas.

Abaixo duas poesias dele. Uma – Navegar é Preciso – tem algum liame, ainda que tênue, com os objetivos deste blog que existe exatamente porque navegar é preciso.

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2 comentários:

Anônimo disse...

Compreendo vc! É admirável o talento e a sensbilidade do Alberto. Certamente está entre nossos grandes poetas. Só falta o incenso da mídia para concretizar
meu sonho de vê-lo conhecido em todo Brasil. Sei que esse dia não tardará.
Um abração.
Belvedere

Unknown disse...

Meus olhos encheram-se de lágrimas, quando li.
Alberto é um poeta, muito simples de se entender.
Abraços e que você seja muito iluminado.
Bete Brito