28/10/2007

DAIANE E OS CHORÕES

Noutro dia estava defronte à tv manuseando esse aparelho que, sem dúvida nenhuma, é um dos mais importantes da era da comunicação de massas: o controle remoto.

Vi o Alexandre Frota chorando. Não sei porque, pois mudei de canal. Mas imagino que tenha feito alguma coisa do mal, senão não faria sentido. O pranto, em certas fachadas, soa surrealista como a maquiagem triste na cara alegre de um palhaço.

Noutra ocasião vi o Romário lacrimejando. Também ignoro os motivos. Acho que foi por não ter sido, mais uma vez e injustamente, segundo ele, convocado para a seleção. Foi na Globo.

O Pelé é um chorão contumaz. Não pode ver um microfone que já vai se debulhando. Se eu fosse um comediante impediria o Pelé de entrar nos meus shows. Acho que até piadas lhe provocam lágrimas.

Não há nada que desabone a dignidade de um homem que chora, independentemente de sua corporatura. Mas não é preciso chorar sempre ou por ninharia. Isto desmoraliza o instituto emocional do pranto.

Já a nossa querida Daiane, que teria motivos muito mais do que os desses aí somados, não vai chorar. Não por falta de provocações. Numa entrevista ela foi tetra-assediada (veja aqui).

Acho que o assédio lacrimal, assim como o sexual, deveria ser elevado à categoria de crime. Ou, pelo menos, de contravenção – sem querer, obviamente, censurar a imprensa.

Mas ela desenganou repórteres de rapina lacrimal:

"Eu não entendo essa coisa de chorar. Claro que fiquei com raiva. Você acha que não fiquei com raiva? Não foi raiva de ninguém, mas de mim mesma: poxa, quem errou fui eu. Eu sabia que poderia ter conseguido e não consegui uma medalha. E você sabe o quanto isso é importante não só para você, mas para milhares de pessoas que estão te assistindo e milhares de pessoas que trabalharam com você. Mas, mais importante do que para todo mundo, é para você que treinou. Imagine como você se sente, se poderia ter sido campeã olímpica e não foi? Óbvio, eu poderia ter me derretido chorando, mas não, não chorei. (...) Estou com muita raiva mesmo, estou puta da cara porque não consegui, mas não vou chorar, e acho que é mais porque as pessoas querem que eu chore. E eu não vou chorar e acabou".

Ela mede só 1,45 m. Mas cresce alguns metros quando dá essas lições. Atentem: ela vai fazer escola e ser logo imitada...

Disso tudo, temo duas coisas: que o Lula edite uma medida provisória obrigando-a a chorar ou que seja colocada no limbo e não mais entrevistada. Como disse outro dia, a televisão não gosta de gente autêntica. Na busca do emocionar, emocionar e emocionar o objeto do repórter tem que derramar lágrimas.

Para evitar isto, sugiro que o próximo entrevistador a assediar a Daiane use um microfone com essência bem forte de cebola. Talvez então ela chore, ainda que não naturalmente.

Se o repórter também chorar a emoção será dobrada. Quem sabe renda pontos no ibope e abra caminho para uma nova modalidade midiática: o choro conjunto e participativo. Entrevistador e entrevistado poderiam se abraçar e chorar copiosamente.

Haja coração!

Se acatarem a idéia, dispenso os royalties. Hoje estou muito generoso e disposto a colaborar desprendidamente para o sucesso alheio.



Publicada originalmente no blog Jus Sperniandi,
em 28/08/2004.

Um comentário:

anja disse...

Andei passeando por aqui:
-Viajei com pessoa.
-Ri muito dos chorões. Ow menina decidida essa Daiane.
-E vi tua historia de vida, acho que merece sim ser contada e recontada, e isso que está só no começo.
:))

ei sobre as abelhas lá, relembrança de infância. Eu aumento mas não invento. Se bem que ficava chique eu dizer que tinha inventado né!