Sem preocupação com o politicamente
correto: você se sente bem após uma consulta médica hoje? Falo de uma consulta
normal com um médico normal. Enxoto, preventivamente, o exame de próstata, da
questão.
Nestes tempos em que tudo é diagnosticado
por sofisticados exames de raios de todas as espécies, ultrassonografias e
ressonâncias magnéticas, essa não é definitivamente uma consulta normal. Para
examinar suas coronárias enfiam um cateter que chega ao coração e, se preciso,
imediatamente instalam “stents” para corrigir obstruções. Para examinar
sua próstata enfiam prosaicamente o dedo naquilo que é torto mas chamam de reto
para sentir se está macia ou encaroçada...
Volto à pergunta e respondo: não gosto
das consultas, hoje em dia. O diagnóstico depende sempre de uma constelação de
exames de todos os naipes, alguns demoram dias, e há médicos que requisitam
outros, depois, para confirmação.
Há alguns anos, era diferente. Você
relatava os sintomas, o doutor Pascoal, que foi médico em Taió, fazia as
perguntas clássicas para tentar enquadrá-los, auscultava seu coração, seus
pulmões, depois o deitava numa maca e apalpava minuciosamente seu abdômen.
Espalmava a mão sobre seu estômago e fígado e tamborilava sobre ela com o dedo
médio, procurando algum som estranho. Examinava seus ouvidos e garganta, mesmo
que você tivesse ido lá apenas para tratar de uma unha encravada.
Hoje não. Você vai ao gastroenterologista
com uma dorzinha na “boca do estômago”, espera uma apalpadela – uma
piedosa apalpadela – para ele identificar o local exato da dor, mas é inútil.
O último que consultei nem tinha maca no consultório.
Perguntei se deveria deitar na escrivaninha, apesar de ocupada com papéis,
canetas e o micro. Ele disse que não precisava e me chamou de brincalhão. E eu
estava falando sério...
Saí de lá com uma requisição para
endoscopia e outra para ecografia abdominal alta... Senti-me reduzido a uma
coisa infundada, sem registro nos dicionários.
O médico é a única pessoa que pode
apalpar você sem receio de comprometimento emocional e isto vale para ambas as
partes, em situação normal. Senão a consulta parece incompleta e você sai do
consultório mais inseguro do que quando entrou.
Exceto, como ressalvei, no caso de
consulta urológica. E falo de cadeira porque já passei dos 70. Dos 70 anos, não
dos 70 exames. Se fosse dos 70 exames teria que começar a desconfiar de mim
mesmo.
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