18/05/2021

E FOI ASSIM...

 

O dia 27/03/1971 também foi um sábado. A Ieda e eu começáramos nossas faculdades em Florianópolis e naquele dia saímos cedo, rumo a Taió. Nosso casamento estava marcado para as 17,00 horas na igreja matriz, com celebração pelo padre Moacir.

Por volta do meio-dia chegamos em Rio do Sul e fomos comprar passagens na Taioense. Surpresa: não havia ônibus. A região estava sob enchente e o trânsito para Taió fora interrompido. E agora? Só faltava o casamento não se realizar por falta dos noivos.

Meu irmão Celito morava em Rio do Sul e trabalhava na oficina Volkswagen de Antônio Círico. Fomos lá e expomos a situação. O seu Antônio não pensou muito e se dispôs a nos levar e logo embarcamos num fusquinha 62 (“pé-de-boi”) rumo ao nosso destino. O pai dele, Aquilino Círico, estava de jipe, ia para Salete e nos escoltou. No fusca ia o motorista, o filho dele, Billy, meu irmão e, naturalmente, os noivos.

Fomos por Pouso Redondo. Ir por Rio d’Oeste – naquela época o caminho normal – nem pensar. A BR-470 estava sendo construída e aproveitamos alguns trechos. 

Cada vez que o fusquinha atravessava a água da pista, o motor morria. Não adiantava ficar com o pé no fundo do acelerador. Nem o fato de o Billy, meu irmão e eu sairmos para empurrar. Só a Ieda ficava no interior, acocorada do banco traseiro, para não se molhar.

Era um trabalhão. Só secar o distribuidor com estopa não adiantava, tínhamos que esperar até que secasse sozinho, “no âmago”, e aguardar que se dispusesse a conduzir a faísca. 

Numa dessas paradas percebemos que o seu Aquilino não nos acompanhava. Ele cortou caminho e o vimos, a solavancos, trafegando sobre os trilhos da ferrovia que ia a Trombudo Central. Ele se mandou.

Naquele tempo não havia o acesso atual e tivemos que subir e pegar a estrada da Paleta. As cabeceiras da ponte da Paleta haviam desbarrancado mas já havia uma máquina arrumando. Depois de uns quinze minutos, seguimos em frente. 

O pior trecho estava por vir: a baixada antes do Caça e Tiro. Para evitar mais uma travessia, voltamos um pouco e cortamos caminho por pastos, abrindo e fechando porteiras, até sairmos nas proximidades da igreja. Nossos relógios marcavam umas 19,00 horas e os convidados já se dirigiam à churrascaria para comemorar sem os noivos. Fomos falar com o padre Moacir para ver se ele nos casaria, mesmo fora do horário combinado.

O padre Eduardo – que estava doente e acamado na casa paroquial – o proibiu de nos casar naquele horário, porque “daí em diante todo mundo iria querer casar de noite e isto seria incômodo”. Mas ele disse que nos casaria, mediante o compromisso de o quanto antes casarmos no civil. É que escrivão Edmundo Ern tinha ido para sua fazendola antes da enchente e não pôde voltar (casamos no civil no dia 1º de maio, dia do trabalho). Como se não bastassem os percalços já enfrentados.

Mas ainda tínhamos que nos arrumar: a Ieda na casa de Horst Hormann – os pais dela moravam em Joinville – e eu na minha casa, para onde foram também os demais tripulantes do fusca. 

Quando cheguei na igreja a Ieda já estava lá, esperando, na Kombi do Horst, há uns quinze ou vinte minutos. O noivo é que se atrasou.

Na hora da comunhão tomei dois goles de vinho, o que foi motivo de gozação dos convidados pelo resto da noite. Na hora das alianças também surgiram uns probleminhas: elas foram compradas antes, por meu pai (casamos sem nunca termos noivado), e a da Ieda ficou muito frouxa e a minha muito apertada. Mas nada que não se resolvesse. 

Algumas mulheres, disfarçadamente mas nem tanto, olhavam para a barriga da Ieda para ver se descobriam alguma protuberância de gravidez. Achavam que nosso casamento fora muito rápido, mas se decepcionaram. Nossa filha só nasceu uns sete anos depois.

O que importa é que casamos. Hoje faz 50 anos... Pelo que sabemos fomos o primeiro casal a casar à noite na igreja católica de Taió. 

Só não podemos comemorar porque a China de Xi Jinping e seus asseclas nos enviaram o coronavírus. Não poderia ser mais desanimador.

Nenhum comentário: