Aqui no RS se usa muito o “louco de atar”. “Aquele juiz é louco de atar” significa que, para manter uma conduta compatível, profissional ou particular, precisa ser amarrado. Senão sai por aí fazendo besteiras. Por incrível que pareça, é muito usada no exemplo dado, principalmente por colegas.
Os mecânicos da oficina do meu pai tinham um bastante expressivo, que utilizava também o vocábulo “amarrado”, mas não vou repetir aqui porque é chulo e este é um blog de respeito.
Há uma dessas expressões que nunca tinha ouvido. Eu passeava pelo shopping e em sentido contrário caminhavam duas moças conversando. Ouvi quando uma delas terminava um comentário sobre alguém com a expressão “o cara é de colar sabonete”.
Uma espada de gelo perpassou-me a espinha (ui!). Instintivamente fitei-as e com tanta expressividade que uma delas riu. Certamente pensou: “esse é um, se traiu!”. Elas passaram e esperei uma gargalhada estrondosa, que retumbaria pelo shopping inteiro, produziria ecos aterradores, quebraria os vidros do teto projetando estilhaços pelo espaço e talvez até atingisse algum avião que sobrevoasse a região. Num lampejo, tive tempo de pensar: “Ainda bem que o Aerolula está na África”.
Não houve a gargalhada, é claro, mas não ousei olhar para trás para ver se elas pelo menos cochicharam a respeito de sua descoberta. Faltou-me coragem...
Sim, eu dou daqueles que cola sabonete. Não descobri o adjetivo que a moça usou. Não ouvi e não sei se elas estavam se referindo a um “chato” ou a um “pão-duro”, mas a verdade é que colo sabonetes.
Quando um está quase no fim e pego um novo, molho a ambos e colo o resto do antigo sobre o novo.
Não sei se é pão-durismo. Acho que não! É que sinto pena da perspectiva da sobra de um sabonete que me serviu durante algum tempo ser sugada pelo esgoto do chuveiro e se perca na fossa suja ou numa caixa de gordura sem cumprir a função para a qual veio ao mundo. Coisas inanimadas também merecem piedade.
Não é uma tarefa fácil. Às vezes é até difícil. É que não uso sempre a mesma marca. Uso de critérios específicos e particulares para escolher o meu sabonete. Geralmente escolho o mais barato, o que está em promoção. Como as promoções mudam muito, mudo também de sabonete, e às vezes as diferenças entre os ingredientes que os compõem impedem uma aderência perfeita.
Nunca tente, por exemplo, colar um composto de glicerina com um daqueles cremosos e nutrientes da pele. Não dá liga.
Às vezes tenho que ficar comprimindo as bordas do menor sobre corpo do maior para que a soldagem seja perfeita. Não gosto de estar tomando banho e sentir as partes se soltarem.
Andei fazendo cálculos e acho que durante toda a minha vida, só com esse sistema de colagem, consegui economizar uns trinta sabonetes!
Mas estou atravessando uma crise. Preciso de qualquer jeito encontrar aquelas moças. Preciso saber, afinal, o que é que eu sou, ou o que é que elas acham que eu sou por colar sabonetes.
Devia ter perguntado na hora, mas fiquei com vergonha. Foi algo tão de supetão que a perplexidade que senti me impediu de agir. Mas sinto que parte de minha identidade se perdeu, naquele dia, no shopping.
Se alguém souber o que é alguém que “cola sabonete”, por favor me diga, de preferência explicando a origem da expressão.
Sinto-me tão inseguro!
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2 comentários:
Puxa vida! Deu saudades. Lembro desta croniqueta, tim-tim por tim-tim. Até fui lá, reli, e revisei meu comentário. NÃO MUDO UMA VÍRGULA DO QUE FALEI NAQUELE DIA.
Como o tempo passa...
Não reencontraste as meninas? Ninguém te informou outro significado para a expressão,fora o apresentado na época por um de teus leitores? COISA INCRÍVEL.
Ainda estás viajando?
Tenho uma pessoa visitando Porto Alegre, a qual gostaria de apresentar-te.
bjos,
não sei o significa da expressão "colar sabonete"... mas, sei o que você é, colando sabonete: um pirangueiro hahahahhahaa
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