17/04/2008

HOMENAGEM A MIM MESMO

Demorei um tempão para te conquistar. Foram tantas coisas que disse, foi tanto cortejo que quando tu vieste – talvez fosse melhor dizer caíste? – nem acreditei. Fiquei surpreso, embora não devesse. Senti-me leve e tive vontade de voar.

Mas seria ridículo. O que pensariam de mim os que me vissem borboleteando próximo ao rio Itajaí, numa pracinha que não existia ainda, só de contentamento? Sempre fui muito suscetível ao riso dos outros.

Depois, eu tivera, um pouco antes uma triste experiência, lembra? De certa forma, talvez meu Inconsciente estava prevendo que aquele dia seria o dia do “sim”.

Por isto antes, quando debaixo de chuva descíamos a escada do Artesanato eu tentei voar. Sim, eu tentei voar e o resultado foi desastroso: ao levantar uma perna para alçar vôo a outra escorregou, perdi o equilíbrio e desci quatorze degraus de bunda. Tuc, tuc, tuc, tuc, tuc, até embaixo.

Ainda bem que tu seguravas o guarda-chuva e não te molhaste. Eu estava de capa, uma daquelas de náilon que depois de um tempo esquentavam demais e fediam porque não deixavam a gente transpirar, embora tivessem uma providencial abertura nos sovacos. Graças a ela não pudeste ver que, na minha arremetida escada abaixo, molhei a bunda.

Então, quando tu deste o teu “sim”, pouco depois, já na frente daquela vitrine fechada, eu estava com a bunda molhada. Mas já te falei isto antes, acredito que, como é meu costume, muitas vezes, pois afinal se passaram 39 anos, cinco meses e vinte e nove dias ...

Depois cheguei a imaginar se aquela caída de bunda não te fez ficar condoída e influenciou positivamente no teu “sim”. Podes ter certeza, eu cairia mais umas duzentas vezes, se fosse preciso.

Depois foi surpresa atrás de surpresa. Como tu eras diferente das outras gurias com quem eu namoriscara. Tu eras – aliás, sempre foste – imune a fofocas, a futilidades, a conversas alheias. Por isto, na sala de aula, ninguém se aproximava muito de ti. Tu parecias uma muralha intransponível ou, pelo menos, difícil. Mas não. Tu tinhas carinhos guardados, risadas escondidas que se foram revelando e me envolvendo e até hoje sou inebriado por elas. E aquela irrepreensível malícia por detrás dos olhos pretos e sempre acesos.

E os outros, mais tarde, como te qualificaram com palavras bonitas. Minha avó dizia que eras santa, mas ela já estava meio caduca e isto não vale. Não sei se ela ironizava ou dizia a verdade nem ninguém nunca vai saber.

Uma colega, depois, disse que tu eras muito meiga. É verdade. Outra te qualificou de esposa-padrão... Mais recentemente alguém afirmou que tu és uma criatura doce, como as trufas da Cirônia. Tu, particularmente, nunca gostaste que te vissem assim. Eu sempre gostei, não muito desse esposa-padrão, aí, que pode significar muita coisa, inclusive e graças a Deus, o oposto do que és.

Claro, eu seria mentiroso se não dissesse que de vez em quando tu deste as tuas rabanadas, durante esse tempo todo. Mas foram daquelas rabanadas de Natal que sempre guardavam um quê de doçura. Pensando bem, algumas não foram tão doces assim!

Tu nunca foste convencida ou esnobe. Sempre foste os pés no chão da nossa relação e, depois, da família. Hoje não se comemora nenhuma efeméride na nossa vida. Por isto sei que não estás considerando estas palavras como dirigidas a ti. Até porque já pediste para não falar mais de ti aqui no blog, para que eu não pareça brega.

Então, essas palavras são para mim, apenas. Sou meio brega mesmo. E, afinal, quem caiu da escada e molhou a bunda só para te conquistar? Então mereço esta homenagem que me faço.

Porque, podes acreditar, guria: é muito bom ser eu!

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Um comentário:

Anônimo disse...

Ave-Maria, meu doce e molhado amigo(rs), mereces, mesmo, prestar-te esta homenagem em alto e bom som. E que ela seja lida, relida e divulgada entre todos nós, para que jamais esqueçamos desta história linda de amor.Eu, pelo menos, juro que vou lembrar e espalhar aos quatro ventos.
Não é qualquer mulher que têm algo assim, tão pitoresco, para recordar e sorrir muito, a cada vez que o faz.
A tua Ieda é uma privilegiada. Ainda que seja doce, que tenha todas as qualidades que enalteces, e muitas outras mais que, com toda certeza, não citaste para que ela não ficasse da cor de uma pitanga, e te fizesse deletar, ela ganhou um presentão do patrão velho, lá de cima.(Tá certo que ele veio despencando pelos degraus, molhando a bunda e ficando com ela dolorida pra danar mas, graças a Deus,não se quebrou).
Se é brega eu não sei, mas que é bonito demais, ah, isto é.
Aplaudo e faço coro:Acredite,aí, guria. É muito bom ter um autêntico Ilton ao teu lado. Ele se ama. Já pensaste nisso? QUE MARAVILHA! O trabalho que dá fazer um homem se amar. O teu já veio prontinho. Aproveita. Parabéns aos dois por esta vida juntinha, tão bonita.
Não deleta. Não deleta. Não deleta.