09/03/2008

BBB5: UM RETRATO DO BRASIL

Terça à noite estava amuado e fui para a cama cedo. Liguei a TV e estava no BBB5. Estranhei a presença do professor universitário Jean. Ele estava lá, firme, e conclui que, além da reviravolta estrondosa do primeiro paredão, contra aquela guriazinha soteropolitana, ele tinha enxotado também o humilde padeirinho de Palhoça, Santa Catarina.

Quer dizer: a discriminação que invocou no primeiro programa e que lhe valeu a reviravolta mexeu com a comunidade gay, que votou nele em peso, e acabou imperando a vontade da minoria que vota.

Porque, em sã consciência, o padeiro de Palhoça era mais simpático, autêntico, simples, pobre, sem a empáfia e o gosto de aparecer do professor. Tiraram alguém sem cacife e deixaram quem é mais esperto e oportunista. Não fora a interferência corporativa dos gays ele teria saído no primeiro programa. Não vi o seguinte e supus que ele não fosse páreo para o padeirinho de Palhoça. Mas foi.

Injusto? Honestamente, acho que sim. Eu votaria no padeiro. Nada contra o professor por ser gay. Já defendi, aqui, a união de homossexuais e não tenho nada contra. O problema dele é ser chato e caga-regras e se amparar em premissas falsas e cabotinas.

O que me desagrada, nos gays, é quando os do sexo masculino pretendem ser mais femininos do que as mulheres (o que não parece ser o caso). Não sei administrar impossibilidades. E um homossexual masculino querer ser mais mulher que uma mulher é de matar a pau! A Natureza deve preservar pelo menos um pouco de sua naturalidade.

Mas — pensei melhor —, tudo no Brasil se resolve assim. A começar, por exemplo, pela Câmara dos Deputados, em grande parte formada por agropecuaristas e/ou advogados. Podem analisar: a maioria das decisões atende aos anseios dessas classes.

Quando era juiz em Espumoso o escritório que elaborava a minha Declaração de Imposto de Renda era a mesma que confeccionava a de um dos mais ricos agropecuaristas da região, proprietário de uma imensa fazenda onde plantava soja e criava gado. Ele pagava de imposto de renda, por ano, aquilo que eu recolhia num mês...

Os agropecuaristas têm seus interesses bem defendidos no Congresso. Por isto não sai reforma agrária, os juros agrícolas são subsidiados e há desvios de empréstimos para construir mansões ao invés de serem aplicados na lavoura.

E a reforma do Judiciário? Não há juiz — nem, por disposição legal, poderá havê-lo — representando a classe no Congresso. Os advogados, que são maioria, estão justificadamente desgostosos com a morosidade da Justiça. É claro que não foi difícil criar o Conselho Externo, embora ele não vá resolver o problema da morosidade.

Quem poderia ter voz ativa na defesa da classe era um ex-deputado federal e advogado que nunca na vida foi Juiz e que foi alçado politicamente ao STF, do qual é presidente: o ministro Nelson Jobim. Mas ele já demonstrou que pretende voltar à política e então seus interesses não são de criar atritos com o Governo. O Judiciário é um poder que não pode modificar institucionalmente a sociedade.

Acompanhem a discussão sobre a Medida Provisória n.º 232, que elevou a cobrança de impostos dos pequenos prestadores de serviço (entre ele advogados) e criou a alíquota de 1,5% a 2,5% sobre a venda de produtos agrícolas (onerando pecuaristas).

Os congressistas se dizem contra para transmitir a impressão de que não será aprovada porque toda a população será prejudicada (o que não deixa de ser verdade). Mas a não aprovação não vai ser por isto. Há exemplos recentes que demonstram que o povo e a cidadania são a última preocupação dos abnegados membros do Congresso: a primeira é agradar o presidente Lula nos conchavos em troca de cargos no Governo.

Na verdade, estão apenas defendendo seus interesses. Em direito se diz: atuando em causa própria.

Enquanto isto continuarão a existir os que pagam imposto demais, como os assalariados que os têm descontado na fonte, e os que pagam de menos, como grandes agropecuaristas, profissionais liberais, etc...

O Brasil é um imenso Big Brother. Os excluídos são sempre parecidos com o jovem padeiro de Palhoça.


Crônica publicada originalmente no blog Jus Sperniandi,
em 04/02/2005.
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