17/01/2008

TERRA SANTA?

A morte do líder palestino Iasser Arafat me instiga a pensar naquele cantão do Oriente Médio chamado Terra Santa. Judeus e árabes, dentre estes mais especialmente os palestinos, o consideram uma terra sagrada.

Mas não adianta a terra ser sagrada se os homens que a habitam não se toleram, não se aceitam, pregam a destruição uns dos outros, vivem em guerra constante e não declarada, em que pedras servem de armas contra tanques, crianças morrem sem a possibilidade de vir a ser e o terrorismo provém de ambos os lados, oficial ou não.

Terra santa?

A unção com que foi consagrada já deve ter sido lavada pelo sangue de inocentes, de ambos os lados, que jorrou e continua jorrando dos mártires anônimos inocentes que morrem sob métodos aprimorados de matar e que demonstram que barbárie e tecnologia são dois termos perfeitamente atuais e adaptáveis um ao outro.

Os rastros dos santos e profetas que passaram por lá foram também lavados e apagados pela fumaça das bombas, pela poeira da destruição, pelos entulhos dos prédios e santuários demolidos, pelas esteiras dos tanques, pelos estilhaços das granadas e dos mísseis.

O pensamento e a filosofia dos sábios e dos profetas estão apenas nos livros e os livros estão fechados. Na alma dos homens não calam conceitos de paz e tolerância porque as porteiras da mente também estão fechadas.

Uma terra, para ser sagrada, necessita do cultivo contínuo da santidade dos antepassados através da compreensão dos que dela fazem morada hoje.

As sandálias que a pisam devem ser limpas e puras.

A humildade e a tolerância devem iluminar a mente dos que administram o destino das gentes que a habitam e seus pensamentos devem ser dirigidos pela santidade e para a paz.

A terra não é mais santa quando os profetas são profanos e profanadores.




Publicado originalmente no blog Jus Sperniandi em 11/11/2004,
logo após a morte do líder palestino Iasser Arafat.
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