14/12/2007

SE...

de Rudyard Kipling
(tradução de Alcântara Machado)




Se puderes guardar o sangue frio diante
de quem fora de si te acusar; e, no instante
em que duvidem do teu ânimo e firmeza,
tu puderes ter fé na própria fortaleza,
sem desprezar contudo a desconfiança alheia...

Se tu puderes não odiar a quem te odeia
nem pagar com a calúnia a quem te calunia,
sem que tires daí motivos de ufania;
sonhar, sem permitir que o sonho te domine;
pensar, sem que em pensar tua ambição se confirme;
e esperar sempre e sempre, infatigavelmente...

Se com o mesmo sereno olhar indiferente
puderes encarar a Derrota e a Vitória,
como embustes que são da fortuna ilusória;
e estóico suportar que intrigas e mentiras
deturpem a palavra honesta que profiras...

Se puderes, ao ver em pedaços destruída
pela sorte maldosa, a obra de tua vida,
tomar de novo a ferramenta desgastada
e sem queixumes vãos, recomeçar do nada...

Se, tendo loucamente arriscado e perdido
tudo o quanto era teu, num só lance atrevido,
tu puderes voltar à faina ingrata e dura,
sem aludir jamais à sinistra aventura...

Se tu puderes coração, músculos, nervos,
reduzir da Vontade à condição de servos,
que, embora exaustos, lhe obedeçam ao comando...

Se, andando a par dos reis e com os grandes lidando,
puderes conservar a naturalidade,
e no meio da turba a personalidade;
impávido afrontar adulações, engodos,
opressões; merecer a confiança de todos,
sem que possas contar, todavia, contigo,
incondicionalmente o teu melhor amigo...

Se, de cada minuto os sessenta segundos,
tu puderes tornar com o teu suor fecundos...
a Terra será tua, e os bens que se não somem,
e, o que é melhor, meu filho, então serás um Homem!


.

Nenhum comentário: