09/08/2007

Nunca te vi, sempre te amei

Não sou um profundo conhecedor de cinema. Gosto de assistir a filmes sem compromisso maior, embora preste atenção a detalhes após ter visto algum que tenha me agradado um pouco mais que o normal.

Vejo muitos. No mínimo cinco por semana. Para quem não é um profissional do ramo, como o Rubens Ewald Filho, creio ser bastante. Não me apego a estilos e apenas tomo algum cuidado, antes de assistir, de ler a resenha (principalmente as entrelinhas, onde está aquilo que quero saber).

Se não gosto, nem termino de ver. Mas já ocorreu de detestar inicialmente um filme e depois, repensando-o, vê-lo novamente e incluí-lo na lista dos meus preditos. Foi assim com o “Além da Linha Vermelha”, já comentado aqui.

Às vezes um bom filme me inspira involuntariamente um adjetivo. Não uma adjetivação fria e chavonesca, mas uma palavra que se transforma num código que me leva naturalmente a lembrar daquele filme.

“Nunca te Vi, Sempre te Amei” (no original “84 Charing Cross Road”) soprou no arquivo de meu cérebro um adjetivo simples, demonstrando que um filme é um ente de vida própria, tem caráter, personalidade e sentimentos. É um filme “amável”. Poderia ter sido “sensível”, mas há muitos filmes sensíveis e então, sei lá por que, prefiro diferenciá-lo um pouco.

É um filme amável porque não agride, não perturba nem é por demais açucarado como o nome, à primeira vista, pode transmitir (Cuidado! Há um outro filme, com esse mesmo título em português, de menor qualidade. Por isto, se for alugá-lo confira o título original, que corresponde ao endereço de uma livraria em Londres).

O enredo é simples. E amável. A escritora americana Helen Hanff, numa convincente interpretação de Anne Bancroft, é aficcionada por clássicos da literatura inglesa. Como não os encontra em Nova Iorque passa a se corresponder com Frank Doel (Anthony Hopkins, especialista em papéis desse estilo), gerente da livraria londrina na 84 Charing Cross Road. Os fatos ocorrem nos anos pós-II Guerra Mundial.

Através de cartas às vezes irônicas e mal-humoradas encomenda obras e ele, fleumático e imperturbável, procura atendê-la da melhor forma possível, mesmo que não disponha do livro em sua loja. Desenvolvendo a relação, passa a lhe sugerir títulos que ela repele ou aceita, de acordo com seu humor. As cartas eram valorizadas pela expectativa da resposta num tempo em que não havia Internet e as relações eram menos transitórias.

Com o tempo, a troca de correspondência evolui e refoge a objetivos puramente comerciais, estabelecendo-se uma relação de afeto entre os protagonistas, inclusive com os demais empregados e proprietários da livraria.

Condoída com a situação da Londres que se recuperava dos efeitos da guerra ela consegue, nas épocas festivas, enviar aos funcionários da livraria alimentos frugais, mas lá racionados, através da Dinamarca. É compensada com mimos trabalhados pessoalmente por familiares dos presenteados.

Depois de 14 anos de correspondência, finalmente, vai a Londres conhecer a livraria e especialmente o gerente Doel.

O final não revelo. Não é nenhuma surpresa, mas é sempre bom conferir pessoalmente.


O filme é baseado nas memórias da dramaturga americana Helen Hanff e dirigido por David Jones. Bancroft ganhou o BAFTA de Melhor Atriz. Foi indicado em mais duas categorias: Melhor Atriz Coadjuvante (Judi Dench) e Melhor Roteiro Adaptado. Hopkins recebeu o prêmio de Melhor Ator no Festival Internacional de Moscou.


2 comentários:

Anônimo disse...

Mel Brooks comprou os direitos para filmar 84, Charing Cross como presente para Anne Bancroft pelo aniversário de 21 anos de casamento deles.
Belo presente!

Danica disse...

Está errado Helene e Frank nunca se encontram!
Ela só vai a Londres em 71!