Não sou um profundo conhecedor de cinema. Gosto de assistir a filmes sem compromisso maior, embora preste atenção a detalhes após ter visto algum que tenha me agradado um pouco mais que o normal.
Vejo muitos. No mínimo cinco por semana. Para quem não é um profissional do ramo, como o Rubens Ewald Filho, creio ser bastante. Não me apego a estilos e apenas tomo algum cuidado, antes de assistir, de ler a resenha (principalmente as entrelinhas, onde está aquilo que quero saber).
Se não gosto, nem termino de ver. Mas já ocorreu de detestar inicialmente um filme e depois, repensando-o, vê-lo novamente e incluí-lo na lista dos meus preditos. Foi assim com o “Além da Linha Vermelha”, já comentado aqui.
Às vezes um bom filme me inspira involuntariamente um adjetivo. Não uma adjetivação fria e chavonesca, mas uma palavra que se transforma num código que me leva naturalmente a lembrar daquele filme.
“Nunca te Vi, Sempre te Amei” (no original “84 Charing Cross Road”) soprou no arquivo de meu cérebro um adjetivo simples, demonstrando que um filme é um ente de vida própria, tem caráter, personalidade e sentimentos. É um filme “amável”. Poderia ter sido “sensível”, mas há muitos filmes sensíveis e então, sei lá por que, prefiro diferenciá-lo um pouco.
É um filme amável porque não agride, não perturba nem é por demais açucarado como o nome, à primeira vista, pode transmitir (Cuidado! Há um outro filme, com esse mesmo título em português, de menor qualidade. Por isto, se for alugá-lo confira o título original, que corresponde ao endereço de uma livraria em Londres).
O enredo é simples. E amável. A escritora americana Helen Hanff, numa convincente interpretação de Anne Bancroft, é aficcionada por clássicos da literatura inglesa. Como não os encontra em Nova Iorque passa a se corresponder com Frank Doel (Anthony Hopkins, especialista em papéis desse estilo), gerente da livraria londrina na 84 Charing Cross Road. Os fatos ocorrem nos anos pós-II Guerra Mundial.
Através de cartas às vezes irônicas e mal-humoradas encomenda obras e ele, fleumático e imperturbável, procura atendê-la da melhor forma possível, mesmo que não disponha do livro em sua loja. Desenvolvendo a relação, passa a lhe sugerir títulos que ela repele ou aceita, de acordo com seu humor. As cartas eram valorizadas pela expectativa da resposta num tempo em que não havia Internet e as relações eram menos transitórias.
Com o tempo, a troca de correspondência evolui e refoge a objetivos puramente comerciais, estabelecendo-se uma relação de afeto entre os protagonistas, inclusive com os demais empregados e proprietários da livraria.
Condoída com a situação da Londres que se recuperava dos efeitos da guerra ela consegue, nas épocas festivas, enviar aos funcionários da livraria alimentos frugais, mas lá racionados, através da Dinamarca. É compensada com mimos trabalhados pessoalmente por familiares dos presenteados.
Depois de 14 anos de correspondência, finalmente, vai a Londres conhecer a livraria e especialmente o gerente Doel.
O final não revelo. Não é nenhuma surpresa, mas é sempre bom conferir pessoalmente.
O filme é baseado nas memórias da dramaturga americana Helen Hanff e dirigido por David Jones. Bancroft ganhou o BAFTA de Melhor Atriz. Foi indicado em mais duas categorias: Melhor Atriz Coadjuvante (Judi Dench) e Melhor Roteiro Adaptado. Hopkins recebeu o prêmio de Melhor Ator no Festival Internacional de Moscou.
2 comentários:
Mel Brooks comprou os direitos para filmar 84, Charing Cross como presente para Anne Bancroft pelo aniversário de 21 anos de casamento deles.
Belo presente!
Está errado Helene e Frank nunca se encontram!
Ela só vai a Londres em 71!
Postar um comentário