Há
algum tempo deixei de ler romances. Troquei o gênero por biografias e por
relatos de fatos reais. São mais confiáveis, exceto as autobiografias: nestas,
inconscientemente (ou não) os autores minimizam suas fraquezas e exaltam seus
acertos.
Os
romances me desencantaram, muitos por sua inverossimilhança, muitos por sua
artificialidade e também por erros históricos ou do próprio entrecho.
A
vida real sempre é mais interessante. Os dramas, sofrimentos, alegrias e
desenganos são autênticos, sem que o autor tenha que se contorcer visando dar
credibilidade a fatos psicológicos que não experimentou.
Li
muito sobre compositores, principalmente Mozart, cuja vida é peculiar. Nenhum
romancista, por mais imaginativo que fosse, poderia criar aquele enredo sofrido
e doloroso cujo personagem, mesmo assim, nos deixou obras alegres e vivas, numa
contradição psicologicamente difícil de entender. Algum dia vou me deter mais
sobre o assunto.
Depois
me dediquei a leituras sobre a conquista do Everest. Li inclusive as
insinuações um tanto maliciosas de Jon Krakauer (No Ar Rarefeito) contra o
alpinista russo Anatoly Boukreev e a resposta deste, mais convincente (A
Escalada), em relação à tragédia de maio 1996. Vi o dvd Morte no Everest,
baseado no livro do primeiro.
Depois
me envolvi com as conquistas dos pólos e o trágico desfecho da incursão do
capitão Scott, sobrepujado pelo norueguês Amundsen na chegada ao Pólo Sul, em
obras baseadas em relatos dos próprios personagens e em outros. Devorei mais de
5000 páginas a respeito.
Recentemente
li um livro de um porto-alegrense que refoge às características épicas desses
últimos.
América
Central nas asas do Quetzal, de Eduardo Soares Batista, narra as peripécias e
descobertas de uma viagem de cinco meses por países da América Central (Belize,
Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Costa Rica e Panamá), quase sempre
via terrestre para reforçar o contato direto com lugares e pessoas. O próprio
autor sai advertindo que “o principal personagem do livro é a região, não é o
viajante”.
Eduardo
é um mochileiro esclarecido formado em Economia e Engenharia Química e
atualmente cursa História da Unisinos. Nas suas andanças pelo mundo “já exerceu
a função de engenheiro na França, foi garçom na Grécia, agricultor em Israel e
professor de Inglês em Porto Alegre”.
Não
se trata de um épico nem o autor saiu a subjugar píncaros ou lugares
inacessíveis ou inalcançados nem quis ser um pioneiro e conquistar cidadelas
inexpugnáveis. Também não o motivou o espírito “heróico” e oportunista de
outros que, seguros em cápsulas e bem patrocinados, saem mundo afora
estimulados pelo prazer da aventura e do desafio às vezes gratuito e sem
sentido.
Antes
traça um perfil sobre a incomum e peculiar civilização Maia, cujo povo se
dispersou como que cumprindo um acordo tácito por motivos ainda não
esclarecidos e passou, de uma forma ou de outra, a enriquecer a cultura e a
formação dos países visitados.
Destes,
extrai verdades históricas, geográficas, sociais e econômicas, algumas que
sequer supomos pudessem existir tão relativamente perto de nós. Outras, como a
pobreza, tão familiar porque comum a todos os povoeiros dessas américas que até
no globo terrestre situam-se em posição inferior.
Só
o contato direto e estreito, pessoal, tête-à-tête, poderia revelar alguns
desses mistérios de nós desconhecidos. Pois, como adverte o autor, “as
vestimentas coloridas dos indígenas podem ofuscar nossos olhos e mascarar a sua
realidade que pode ser preta e cinza”.
Nessas
revelações reside a força principal da obra.
Um comentário:
intiresno muito, obrigado
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