03/04/2009

UM DOMINGO DIFERENTE

Domingo resolvi fazer um programa diferente: ver um jogo de futebol ao vivo. Não pela tevê, ao vivo mesmo. Não fui ao Olímpico nem ao Beira-Rio, mas a um campinho aqui no bairro, aberto ao público, sem alambrado e, pelo que pude observar, nem é bem retangular nem muito plano.

Fui para matar a saudade de minha infância em Taió, quando o União e o Cacique eram os dois times mais fortes, embora em certa época o Fortaleza, do Ribeirão da Vargem, tenha dominado o cenário regional por algum tempo.

Lembro de jogadores como o seu Dodô que era avô, mas ainda jogava de centro-avante do União. O Facão, alto e forte, nariz adunco e cego de um olho era o center-half. Depois o União andou importando jogadores de Florianópolis e com isto perdeu-se a identidade futebolística taioense. Mais tarde, depois de voltar do colégio, por ter ido morar na parte de cima da cidade passei a torcer pelo Cacique.

Eu também joguei futebol em Taió. Minha carreira foi meteórica. Saí do juvenil diretamente para os veteranos do Cacique. Devo ter jogado umas duas partidas em cada categoria. Bati um recorde que, acho, vou pedir para inscrever no Guiness: sem dúvida sou o jogador mais novo a jogar nos veteranos. Apenas 25 anos... O Ronaldinho Gaúcho tem 26 e não chegou lá ainda.

Mas no jogo que fui ver domingo jogavam um time chamado Estrela, aqui do bairro, contra um da Restinga. Quando cheguei estava 2 a 0 para os visitantes, mas o jogo acabou 3 a 3. Sorte do juiz! O nível das equipes se compara com o dos grandes times do Brasil, pelo menos num aspecto: a manha dos jogadores. Qualquer encostada provocava uma queda cinematográfica e a impressão de fraturas generalizadas que dois minutos depois estavam perfeitamente consolidadas...

Mas não há mais aquele fair-play da minha infância. A torcida, embora pouco numerosa, é agressiva e o juiz é a principal vítima. Ele marcou um pênalti contra o time da casa e cinco ou seis torcedores – quase a totalidade – invadiram o campo e um deles chutou a bola para longe. Nada comparável à torcida de Taió comandada pelo seu Maneca Negreiros, que ficava gritando chistes não ofensivos aos jogadores adversários. Já assistir a jogos perto do seu Vital era um perigo: quando, no campo, um jogador estava com a bola nos pés e demorava para chutar ele chutava e não poucas vezes acertava alguém próximo.

Já a dona Santa, da antiga Rua do Inhame, torcedora fanática do União, levava os filhos juntos, Uma vez, na arquibancada, um deles mijou nas costas do Eládio, sentado mais abaixo com a namorada...

Todas essas coisas até poéticas foram substituídas por palavrões, agressões físicas e ameaças.

Mas quando voltei e sintonizei o jogo Corinthians contra Ponte Preta, aqui transmitido pela Record, senti uma das vantagens do campinho do bairro: lá não havia um locutor esportivo chato berrando e se esganiçando descrevendo aquilo que a gente vê e muitas vezes aquilo que nem acontece, nos desmentindo assim na cara.

Mas há desvantagens também. Você não pode se distrair num jogo visto no campo. Eu tive a capacidade de perder um gol. Meio distraído só olhei quando a torcida comemorava, o goleiro estava caído e a rede balançando.

No momento não me preocupei. Fique olhando e esperando o... replay. Isto mesmo. Acostumado a ver jogos pela televisão digitando ou navegando na Internet ao mesmo tempo, meu inconsciente mal acostumado me fez aguardar a repetição do lance... É uma sensação estranha, essa de esperar o que está para vir mas nunca virá.

Já tenho a solução para a próxima vez: vou levar uma câmera de vídeo e um aparelho de tevê para servir de monitor e gravarei a partida. Terei replay e poderei ver o jogo pela tevê sem a inconveniência de ouvir um narrador chato.


Publicada, originalmente, no blog Jus Sperniandi,
em 02/05/2006.
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Um comentário:

Anônimo disse...

Tente fazer isso. Mas a mágica não subsistirá.