26/04/2009

MINHAS PANTUFAS NOVAS

Hoje é domingo, dia de amenidades ou de silêncio no blog, como domingo passado, que foi o Dia das Mães.

Não escrevi nada naquele dia. Emoção de pai ao rever a filha que mora longe e veio trazer um abraço para a mãe sobrando uma generosa rebarba para o papai. O marido ficou choroso em casa e já estava com saudades antes de ela sair. Telefona de três em três horas.

Mas para escrever sobre o tema de hoje, as minhas pantufas, preciso antes digressionar um pouco e dar explicações à guisa de introdução, como gostam de dizer os juristas:

Primeira introdução: gosto do frio muito mais do que do calor. Mas não gosto de sentir frio, o que é bem diferente. Experimento uma bela sensação de bem-estar quando há frio lá fora mas estou bem agasalhado e quentinho aqui dentro. Já escrevi sobre isto no blog.

Segunda introdução: por isto, há anos, gosto de usar pantufas e podem ter certeza que elas não são um adereço apenas pós-aposentadoria.

Mas minhas pantufas velhas, que devem ter mais de dez anos, estão, como se diz em Taió e em outros lugares do Brasil, em “petição de miséria”. Embora a lã de ovelha ao redor permaneça em bom estado, o seu interior está desgastado e até um ou outro furo apareceram nas laterais, o que percebo quando ando pelos pisos frios da casa. Pés quentes é indispensável!

Terceira introdução: há tempos venho procurando um par de pantufas novas, sem êxito. Nem a Ieda nem eu encontramos iguais ou semelhantes. Devo ser uma das únicas pessoas do mundo que gosta de sentir os pés quentes abrigados por pantufas grandes como quem agasalha os pés com um casaco de peles. No caso, de ovelha, para não melindrar ecologistas. Só isto pode explicar a sua ausência nas boas e nas ruins casas do ramo.

Quarta e última, e muito importante, introdução: temos um costume que começou assim que casamos do qual me orgulho de ser o mentor. Cada vez que há alguma festividade, como aniversário ou outra data em que só um membro da família é festejado, todos ganham presentes. O homenageado recebe presentes de todos os outros. Em compensação presenteia os demais com alguma lembrancinha. Nada muito caro, pois senão ele não se sentirá devidamente compensado pelo seu dia. Geralmente isto ocorre de manhã bem cedo e o homenageado é acordado com um desafinado “Parabéns a Você”, este ano bem mais afinado porque a Michele, namorada do Francisco, que é cantora lírica, também participou.

Conclusão: no Dia das Mães a única mãe da casa ganhou seus presentes e deu presentinhos aos demais. A mim me coube um par de pantufas. Essas aí em cima. Fizeram eu calçá-las, bateram fotos, festejaram e riram ainda ao redor da cama onde a festa começou. Parecia que a mãe era eu e isto não deixa ter um pouco de verdade: sou um pai que é uma mãe, embora meus filhos não concordem.

Fomos almoçar fora e ao voltarmos, pelas 15,00 horas, eu, que sempre fui cincunspecto e comedido, me flagrei aflito atrás das minhas pantufas novas...

Elas são aquecedoras, aconchegantes e... espalhafatosas. A Clarissa e a Ieda, que as compraram, disseram havia outras, inclusive com motivos da Copa do Mundo e cores berrantes do Brasil. Havia de vários personagens de desenhos animados, como do Ursinho Puff, do Tigrão, do Pluto, da Hello Kitty... Algumas imitando patas de animais. Estas eram largas e tiveram medo que eu tivesse de andar de pernas abertas e caísse. E não estou tão velho a ponto de andar arrastando os pés. Acho, nunca prestei atenção.

Finalmente, sexta-feira, a Ieda, por acaso, achou numa loja pantufas iguais às antigas. Recusei educada, mas solenemente. Ainda que com sérias dúvidas, que me fazem coçar a cabeça, de vez em quando, sobre os motivos ocultos da escolha do personagem, prefiro as do Pateta.

Elas me assentam perfeitamente!

Publicado originalmente no blog Jus Sperniandi,
em
21/05/2006.
.

03/04/2009

UM DOMINGO DIFERENTE

Domingo resolvi fazer um programa diferente: ver um jogo de futebol ao vivo. Não pela tevê, ao vivo mesmo. Não fui ao Olímpico nem ao Beira-Rio, mas a um campinho aqui no bairro, aberto ao público, sem alambrado e, pelo que pude observar, nem é bem retangular nem muito plano.

Fui para matar a saudade de minha infância em Taió, quando o União e o Cacique eram os dois times mais fortes, embora em certa época o Fortaleza, do Ribeirão da Vargem, tenha dominado o cenário regional por algum tempo.

Lembro de jogadores como o seu Dodô que era avô, mas ainda jogava de centro-avante do União. O Facão, alto e forte, nariz adunco e cego de um olho era o center-half. Depois o União andou importando jogadores de Florianópolis e com isto perdeu-se a identidade futebolística taioense. Mais tarde, depois de voltar do colégio, por ter ido morar na parte de cima da cidade passei a torcer pelo Cacique.

Eu também joguei futebol em Taió. Minha carreira foi meteórica. Saí do juvenil diretamente para os veteranos do Cacique. Devo ter jogado umas duas partidas em cada categoria. Bati um recorde que, acho, vou pedir para inscrever no Guiness: sem dúvida sou o jogador mais novo a jogar nos veteranos. Apenas 25 anos... O Ronaldinho Gaúcho tem 26 e não chegou lá ainda.

Mas no jogo que fui ver domingo jogavam um time chamado Estrela, aqui do bairro, contra um da Restinga. Quando cheguei estava 2 a 0 para os visitantes, mas o jogo acabou 3 a 3. Sorte do juiz! O nível das equipes se compara com o dos grandes times do Brasil, pelo menos num aspecto: a manha dos jogadores. Qualquer encostada provocava uma queda cinematográfica e a impressão de fraturas generalizadas que dois minutos depois estavam perfeitamente consolidadas...

Mas não há mais aquele fair-play da minha infância. A torcida, embora pouco numerosa, é agressiva e o juiz é a principal vítima. Ele marcou um pênalti contra o time da casa e cinco ou seis torcedores – quase a totalidade – invadiram o campo e um deles chutou a bola para longe. Nada comparável à torcida de Taió comandada pelo seu Maneca Negreiros, que ficava gritando chistes não ofensivos aos jogadores adversários. Já assistir a jogos perto do seu Vital era um perigo: quando, no campo, um jogador estava com a bola nos pés e demorava para chutar ele chutava e não poucas vezes acertava alguém próximo.

Já a dona Santa, da antiga Rua do Inhame, torcedora fanática do União, levava os filhos juntos, Uma vez, na arquibancada, um deles mijou nas costas do Eládio, sentado mais abaixo com a namorada...

Todas essas coisas até poéticas foram substituídas por palavrões, agressões físicas e ameaças.

Mas quando voltei e sintonizei o jogo Corinthians contra Ponte Preta, aqui transmitido pela Record, senti uma das vantagens do campinho do bairro: lá não havia um locutor esportivo chato berrando e se esganiçando descrevendo aquilo que a gente vê e muitas vezes aquilo que nem acontece, nos desmentindo assim na cara.

Mas há desvantagens também. Você não pode se distrair num jogo visto no campo. Eu tive a capacidade de perder um gol. Meio distraído só olhei quando a torcida comemorava, o goleiro estava caído e a rede balançando.

No momento não me preocupei. Fique olhando e esperando o... replay. Isto mesmo. Acostumado a ver jogos pela televisão digitando ou navegando na Internet ao mesmo tempo, meu inconsciente mal acostumado me fez aguardar a repetição do lance... É uma sensação estranha, essa de esperar o que está para vir mas nunca virá.

Já tenho a solução para a próxima vez: vou levar uma câmera de vídeo e um aparelho de tevê para servir de monitor e gravarei a partida. Terei replay e poderei ver o jogo pela tevê sem a inconveniência de ouvir um narrador chato.


Publicada, originalmente, no blog Jus Sperniandi,
em 02/05/2006.
.