01/05/2008

A VERDADE É A VERDADE?

Uma reportagem televisiva banal provocou-me um receio profundo e de cujas conseqüências tenho considerações amedrontadoras e inquietantes.

Já consultei 39 psiquiatras e encontraram em mim um elenco grandioso de irregularidades, como defeito de fábrica, unha encravada e dermatite seborréica no que resta de minha cobertura. Menos paranóia.

No dia 14/04/2004 o jornalista Jorge Kajuru – atualmente invisível nas grandes redes – apresentou uma matéria no Esporte Total, da Band, que dá o que pensar. Não a matéria, em si, mas a possibilidade de desdobramento e de uso dos mesmos recursos em assuntos sérios e graves, com poder de influenciar decisões e justificar medidas extremas, em qualquer nível (local, nacional ou internacional e, dentro em breve, até intergaláctico).

Quem teve o privilégio de ver a Copa de 1970 não esquece um chute do Pelé que, do círculo central do campo, tentou marcar um gol na então Tchecoslováquia. A bola não entrou por pouco.

O programa apresentou uma montagem em que a bola entra. Não é possível, a olho nu, verificar que se trata de efeito, tal a perfeição do acabamento: seguindo-se a trajetória da bola, tem-se a exata impressão de que ela sai do pé do Pelé e vai se alojar, sem solução de continuidade, no interior do gol adversário.

Não se está criticando o programa ou o apresentador. Não é isto que está em jogo. Foi uma homenagem foi bem feita, inocente, e aquela bola deveria mesmo ter entrado.

Na Copa de 1966, na final entre Alemanha e Inglaterra, o english team marcou um gol que suscitou polêmica ainda em campo: a bola bateu no travessão, caiu alguns centímetros para dentro da linha de gol e, pelo efeito contrário que levava, saltou para fora. Depois, no cinema, pelo recurso da câmera lenta lateral, foi possível verificar que a bola efetivamente entrara.

Entretanto, há dois ou três anos, a discussão ressurgiu e a mesma imagem foi mostrada na tv e, surpreendentemente, percebeu-se que a bola não ultrapassou a linha de cal...

Qual a imagem real? Particularmente creio que a primeira, do cinema, pois é visual e não digital ou virtual, e de uma época em que não havia recursos tecnológicos tão aprimorados quanto os de hoje. Mas, imbuído de manobras e teses que fazem frutificar as mais absurdas teorias conspiratórias, penso que sempre haverá quem julgue correta a imagem apresentada por último. Principalmente os jovens, que não acompanharam a copa de 66 nem viram o filme.

O meu receio é o de que esse tipo de manobra possa ser aplicado de forma não inocente em outros fatos da vida humana. Numa guerra, por exemplo. Aquelas imagens da Guerra do Iraque, de aviões destruindo “cirurgicamente” alvos militares, até que ponto são verdadeiras e até que ponto podem ser montagem?

Até agora não foram achados sinais de que Sadan Hussein fabricasse armas químicas ou que dispusesse de meios para tanto. Nem será necessário o uso de técnica tão aprimorada para Mr. Bush, algum dia, apresentar ao mundo uma imagem provando o contrário. Ele tem meios técnicos eficientes de forjar uma filmagem no deserto de Mojave e dizer que foi no Iraque.

Mas o meu temor é de que a História seja alterada. Como a que estamos vivendo hoje só será contada com isenção daqui a uns 50 anos, é possível que essa isenção seja contaminada ou influenciada, que imagens forjadas sobrepujem documentos, e que nossos bisnetos, por exemplo, nunca saibam que os Estados Unidos invadiram o Iraque: este é que invadiu os EUA e a muito custo foi rechaçado e recolocado no seu devido lugar.

Na forja dos poderosos mal intencionados é possível transformar ouro em pirita. Ou o contrário.



Publicado originalmente no blog Jus Sperniandi,
em 17/03/2005.
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