Nenhum fato social acontece
sem que alguém tenha culpa. Essa é uma regra válida para todos os que habitam
nesta terra. E o culpado é, geralmente, o outro. Esta a segunda regra.
Desculpem os dirigentes da República da Panákia se, porventura, eu
estiver dizendo alguma heresia que contrarie a Constituição daquele país.
Eu não sou adepto da teoria
das conspirações (o plural é de propósito), mas acho que os americanos são
culpados de todo o mal que ocorre no mundo. Desde a peste suína que varreu o
Brasil, se não me engano no tempo do Geisel, venho pesquisando a respeito e já
descobri, de fonte segura, que no Norte do Estado do Oregon há uma cidade
subterrânea habitada por famílias que vivem num regime de deliberada reclusão.
Completamente
auto-suficiente, seus membros encontram nela de tudo o que precisam para uma
vida saudável e abastada. Homens e mulheres que se destacaram na vida acadêmica
vivem ali regiamente pagos pelo Governo com o objetivo principal de sabotar os
países em desenvolvimento.
Descobri o nome da cidade:
Ambush. Não adianta procurar no mapa. Os mapas são deficientes e confeccionados
em papel e não permitem a inclusão de uma cidade subterrânea. Seria uma
exigência absurda pretender que um mapa indicasse uma cidade sob a terra: ela
estaria sob o mapa e não poderia ser vista. Elementar!
Minha mãe era tricoteira de
primeira. Antigamente, na minha infância, se fabricava uma lã de excelente
qualidade, daquelas que, com o uso, não criavam bolinhas. Depois de algum tempo
todas elas passaram a ser de qualidade inferior e criar bolinhas. Por quê?
Porque uma fábrica americana inventou um aparelho de extrair bolinhas de lã e
precisava vender seu produto. As cabeças pensantes de Ambush descobriram um
hormônio especial e o inocularam nas sementes das gramíneas que alimentam os
animais tosquiáveis que vai refletir na lã produzida e o disseminaram pelo
mundo. Desde então você pode comprar a melhor blusa do mercado que vai ter que
comprar o aparelho de podar as bolinhas se quiser mantê-la sempre bonita e
vistosa.
Ambush tem ligação direta
com a estação polar americana no Pólo Sul, aí embaixo, perto de nós, e
implementou um sistema que lhe permite influenciar no clima da região, criar frentes
frias, ciclones, tufões e furacões.
Lembram do furacão Catarina?
Foi a primeira experiência bem sucedida deles de exportar esse tipo de fenômeno
climático para o Brasil que é, ou pelo menos era, um país livre dessas
inclemências. Depois vieram mini-furacões em Criciúma e, mais recentemente, em
Indaiatuba, São Paulo. Então, nesses casos, não adianta querer colocar a culpa
no Lula, ou no PT, porque eles são completamente inocentes.
E há previsão de que outros
ocorram no decorrer deste Inverno, mas isto ainda não é certo. Lidar com o
clima é, até para os estudiosos de Ambush, muito difícil. O clima é instável.
Mas eles, em cooperação com a estação polar, já estão começando a dominá-lo com
alguma intimidade e dentro de alguns anos os furacões que agora assolam os EUA
serão desviados para o Sul do Mundo sem que tenhamos que pagar qualquer taxa de
importação.
Isto é só um exemplo. Há
coisas mais graves que os americanos fazem contra nós, mas como a postagem
deste blog é limitada a um determinado número de caracteres – coisa de
americano! – sou obrigado a parar por aqui.
Se sou paranoico? Eu não.
Nunca tive medo de ser perseguido.
Desde que voltei de Santa
Catarina, há uns vinte dias, vivo no interior de uma sala secreta, à prova de
furacões e outras ameaças, no porão de minha casa, com acesso à Internet (outra
coisa que os americanos criaram para nos dominar). Ela é dotada de banheiro e
de um certo conforto, é claro. Tem uma abertura por onde a dona Estela – nossa
personal home – me serve o café da manhã, almoço e janta.
Assim protegido, como é que
vou ter medo de perseguição? Estou mais seguro aqui do que vocês aí fora,
vivendo perigosamente no descalabro desse mundo, ouvindo mentiras e lendo
bobagens...
Publicada originalmente no blog Jus Sperniandi,
em 21/06/2005.
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