05/09/2009

MAIS CONFUSÕES ALIMENTARES

Estive confabulando com o meu coração e ele está desconsolado. Chora aos soluços descompassados pois, como todos sabem, é fibrilado. Ele anda triste e confuso. Muito confuso. Não é sem razão que ele é completamente arrítmico.

Primeiro foi a crise da gordura saturada. Ele, que desde a infância estava acostumado a comidas gordurosas como nata, lingüiça frita na banha de porco ou no “azeite doce”, morcília (da branca e “da outra”) e principalmente ovos, teve que deixar de lado tudo isto e passar a ingerir algo como margarina – que no início era intragável – e alimentos leves, evitar lingüiça e principalmente a banha de porco, o azeite e as próprias frituras.

Surgiram óleos de soja, gordura vegetal, inicialmente saudados como a solução para a aterosclerose. Mas também se revelaram prejudiciais. Então o azeite Mazolla, de milho, sem colesterol, cuja marca transformou-se na própria substância. A gente, no mercado da esquina, pedia um Mazolla e já se sabia o que era. Recentemente surgiram óleos sem colesterol e se descobriu que o azeite de oliva, ao contrário dos outros, faz bem ao coração fulminando o colesterol ruim e ativando o bom (não sei até quando essa verdade vai prevalecer, mas ainda está na moda).

No tempo em que a gordura animal era um veneno admoestei meu pai, cardíaco desde os 36 anos, safenado, e já nos seus 60 anos de idade. Estava diante de um rico prato de comida e eu:

− Mas pai! Comendo isto tudo?

− Ah! − respondeu. Uma vez por dia não faz mal.

Depois do almoço, conversando a respeito ele confidenciou um tanto triste que se fosse atrás de tudo o que os médicos lhe diziam já teria morrido de fraqueza. Não levou muito tempo e ele faleceu, mas pelo menos não de fraqueza.

Agora nova mudança no mundo alimentar. Depois de expulsar de nossa dieta as gorduras animais combate-se as chamadas trans, ou vegetais transformadas, que seriam ainda piores: além de provocar a famosa “barriga de cerveja” (algo completamente despropositado, pois se come pão todos os dias e se culpa a cerveja do fim de semana) estimula a produção do colesterol ruim.

Mas nosso atento Governo tomou uma providência séria: de agora em diante todos os alimentos com gordura trans trarão no rótulo a quantidade dessa gordura, como acontece com outros itens calóricos.

Isto é bom. Faz bem. Você sabe quanta gordura trans está ingerindo na margarina, no pão, nos biscoitos, na massa, por aí afora. De agora em diante vai saber.

Não tomo Nescau, de nenhum tipo, mas apenas de curioso acessei o site da Nestlé para ver a diferença do
Nescau Prontinho comum e do Nescau Prontinho Light. Não consegui distinguir qual é o menos pior. No light foram retiradas várias vitaminas.

Por isto meu coração e eu estamos confusos, apesar da boa intenção do Governo em nos esclarecer. Estou pensando em, de agora em diante, deixar os alimentos nas gôndolas, trazer o rótulo e me alimentar deles.

Só vou aguardar que o Governo mande informar o grau de nocividade da tinta usada na impressão.





Publicada originalmente no blog Jus Sperniandi
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em 22/08/2006.

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