13/11/2009

EVOLUÇÃO SOCIAL

CERTAS MODIFICAÇÕES SOCIAIS DÃO O QUE PENSAR



Estranhas as transformações por que passa o mundo e mais estranha ainda a forma de as pessoas encararem certos fatos hoje. E as formas de se ganhar dinheiro também se modificaram substancialmente.

A Cicarelli e o namorado foram filmados fazendo sexo numa praia. Ficou por isto mesmo. Estavam trepando, mas se diz que faziam amor (Ah, o amor! Está na hora de alguém ensinar a essa gente que amor se sente e se vive e não se fabrica mecanicamente como uma masturbação a dois). A liberalidade do brasileiro admite essas coisas como permitirá, em breve, macacos nas praias, como mostra o filme Turistas que estão querendo boicotar porque mostra um Brasil mais real que o real e isto revolta a nós, habitantes desta honrada e cristalina Nação.

Isto se os macacos concordarem e suportarem a sujeira que os humanos fazem nas praias, como os que entram na água só para dar uma mijadinha, sem contar os esgotos a céu aberto, sabugos de milho verde, latinhas de cerveja, cocô de cachorro (se estes são admitidos e exibidos por seus donos, por que não macacos?), etc.

Mas o caso da Cicarelli e do namorado é inusitado. Ou não? Acho que não. Mas eu, se sair pelado na rua aqui no recantozinho do meu bairro, serei processado no mínimo por ultraje público ao pudor. Por quê? Porque com 55 anos, gordo, meio careca e nu na via pública minha conduta só poderia mesmo ser considerada indecorosa. Já a Cicarelli e o namorado são aceitáveis porque são bonitos e podem praticar um falso naturismo numa praia pública.

Agora a Juliana Paes vai processar o fotógrafo Marcelo Pereira porque ele bateu uma foto dela sem calcinha. Ela usava uma saia curtinha e deve ter tomado a cautela necessária para mostrar exatamente aquilo que o fotógrafo fotografou. A coisa está ficando cabeluda para o lado dele que é acusado de montagem fotográfica. Montagem, nesse assunto, é bom.

Pode até ser e então o fato será efetivamente grave e autoriza à sem calcinha com calcinha processar aquele que viu o que estava sendo exposto por debaixo do pano porque os paparazzi existem mesmo para amolar as pessoas batendo fotos delas em situações quanto mais embaraçosas melhor.

Mas para a dona do Bar da Boa, que já exibiu a bunda em comerciais de cerveja – só faltou mostrar mesmo aquilo que o jornalista fotografou ou montou – andar sem calcinha parece natural. Bater a foto, que não é nada indecente, é antinatural. Uma tendência geral: o crime não é comprar o dossiê de Cuiabá, é mostrar o dinheiro apreendido... Uma coisa bem petista. E eu ainda me impressiono com essas mudanças... Sou muito ingênuo.

E se o baixinho da Kaiser resolver andar só de cuecas, daquelas abertas na frente (acho que combina com o tipo dele) e o pingolim saltar e alguém bater uma foto, quem vai ser processado? Ele ou o fotógrafo? É uma incógnita. Eu que lidei com o Direito a vida inteira, a estas alturas nem sei se valorizo mais Código de Ética do PT ou a Constituição Federal. Aquele, pelo menos, é estável.

Na verdade, tudo depende do dinheiro e cada um vai ganhando dinheiro como pode. As celebridades bonitas posam nuas para a Playboy em posições ginecológicas e isto é normal. Fotografar casais que buscam publicidade fazendo sexo na praia, não.

A Juliana Paes disse que, se ganhar a ação, vai doar o dinheiro para o Retiro dos Artistas. Uma boa ação. Mas um velhinho, lá, entrevistado pelo Jus, disse que preferia ver a foto mesmo. Até para tentar se lembrar para que serve a anatomia fotografada.



Publicado originalmente no blog Jus Sperniandi,
em 05/12/2006.
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