15/08/2009

LIVRO DO PARREIRA? NEM DE BRINDE!

Fui, ontem, a uma livraria no Shopping em busca do livro “Incêndio”, de Jorg Friedrich.

Notei que estava acondicionado num pacote mais grosso, envolto em plástico, com uma faixa em diagonal: pague um, leve dois.

Gosto de promoções. Sempre procuro adquirir devedês dessa forma e já entrei pelo cano várias vezes. A última foi com um filme chamado “Lenda Urbana”, que consegue a façanha de ser bem pior do que “Pânico”.

O brinde estava embrulhado em papel opaco. Indaguei ao vendedor:

— O que é esse brinde?

— É um livro muito bom. A empresa comprou muitos e estamos dando de brinde.

— É mesmo? Que livro é?

Ele ficou meio cabisbaixo e respondeu:

— É o “Como formar equipes que vencem”, do Carlos Pereira.

Estranhei um pouco, pois já ouvira título e autor semelhantes.

— Posso abrir pra ver?

— Não, não. Se abrir perde a garantia.

— Que garantia? Livro não tem garantia. E se eu não tirar o invólucro, como é que vou ler?

— Não sei! As instruções que passaram é que não pode ser aberto na loja, só lá fora. E garantia vence no instante em que o senhor sair pela porta.

Fiquei intrigado, mas como se vê tanta coisa nesse Brasil (como alguém que não faz nada dobrar o patrimônio em menos de quatro anos) não estranhei muito. Como os brindes geralmente são pagos, quis declinar.

— Vem cá. Mas não quero brinde. Quero só o Incêndio. Quanto custa?

— Igual. É brinde mesmo. E não temos condições de vender apenas um porque o preço é o mesmo e não enganamos o consumidor. É um brinde, realmente, no verdadeiro sentido da palavra.

— Então vamos fazer assim: eu te dou o brinde de presente.

— O senhor tá louco? O que é que vou fazer com esta porcaria, quero dizer, eu não gosto de ler e nem tenho tempo para isto.

Rasguei o invólucro e verifiquei se tratar do “Formando Equipes Vencedoras”, do Carlos Alberto Parreira. O vendedor baixou a cabeça.

— Desculpe-me tentar enganar. Mas é brinde mesmo. O senhor leva de graça. Baixaram uma norma aqui: quem não conseguir empurrar esse livro de brinde com qualquer outro perde o direito à comissão. Me ajude, por favor.

— Tá. Eu levo. Mas vou jogar na primeira lixeira ali na saída.

— Ih! As lixeiras já estão cheias desse livro. É melhor o senhor levar pra casa. O senhor não tem lareira?

— Tenho.

— Pois é, com esse friozinho o senhor pode usar para começar o fogo. Não é uma boa idéia?

Fiquei condoído e trouxe o brinde para casa. À noite fui usá-lo para “prender” fogo na lareira, como diz o gaúcho. Depois que pegou comecei a pôr lenha por cima. Tinha queimado quase todo o vento lá fora deu uma rabanada jogando fumaça e cinzas para dentro, sujando o carpete...

Tive mais sorte que o senhor da ilustração aí em cima, que entupiu a rede de esgoto de sua casa. Gastou uma nota para desentupir!


Publicado originalmente no blogue Jus Sperniandi,
em 06/07/2006.
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