03/11/2007

ANÃO GIGANTE EXISTE...

Em princípio, nada tenho contra as Olimpíadas. Servem, até, para quebrar a monotonia televisiva nossa de cada dia, apesar dos lugares comuns: a falta de criatividade faz com que os repórteres rebusquem coisas velhas nos seus baús e tentem nos impingir como novas.

O Arnaldo Jabor falou do Jesse Owens e da humilhação que em 1936 infligiu a Hitler, que por puro despeito teria se retirado do estádio, o que, a bem da verdade, não foi comprovado. O mundo não precisa mais dessas forçadas. Certas coisas não precisam ser sempre lembradas. As más lembranças podem induzir fatos negativos.

Ainda bem que não mostraram – pelo menos não vi – aquela alemã cambaleante, retorcida e descoordenada na linha de chegada de uma corrida como exemplo de superação. Aquilo foi a mais pura demonstração de desrespeito ao próprio corpo e à própria saúde.

Mas há a possibilidade de enriquecimento cultural. Com o Sílvio Luiz e a Magic Paula aprendi, por exemplo, que a Nova Zelândia fica na Europa... Logo em seguida eles corrigiram o erro.

Eu vi o Brasil conquistar sua primeira medalha de bronze, no judô. Foi uma luta sem graça, um agarra-agarra que não saiu da tentativa, parecia até que um estava tirando o outro para dançar mas não chegavam a um acordo sobre quem faria o papel da moça e quem o do varão. O brasileiro ganhou pelas punições que o adversário sofreu e não por algum golpe mais vistoso de sua iniciativa.

Eu fiz duas aulas de judô, no tempo da faculdade, no prédio da Medicina, situado na praça do "Kioski", que o Carlos Damião vem mostrando no seu blog. O professor era um Aducci, cujo prenome não lembro.

Experimentei então uma das minhas mais gloriosas realizações esportivas. Aquilo é que foi superação! Tinha que correr, apoiar as mãos no chão, virar, rolar, levantar e sair correndo novamente. Nunca conseguira fazê-lo antes, por isto exagerei na impulsão e cai de bunda. O choque foi tão forte que até o lustre estremeceu. E o piso era de concreto... Se o Aducci for muito persistente deve estar ainda hoje me esperando para a terceira aula.

Eu sei que é querer demais, mas preferiria que vencessem os naturalmente mais fortes. Aqueles a quem a natureza dotou de dons, força e talento superiores e não aqueles que os conseguem através de hormônios ou outras drogas. Os resultados que temos aí parecem artificializados através dessas substâncias e isto não pode servir de parâmetro para a história da fisiologia humana – se é que alguém busca algum estudo científico nas olimpíadas.

Vencem os que usam drogas cada vez mais elaboradas, recebem preparação especialíssima e são criados em viveiros com finalidade predeterminada. Como os nadadores. Li, numa reportagem sobre o Ian Thorpe, o australiano, que as drogas que tomava para reforçar sua massa muscular lhe davam aquelas feições de rosto e nariz compridos. Passei a perceber que com outros nadadores ocorre o mesmo. Daqui a uns tempos vai ser difícil distingui-los quando estiverem juntos no tablado de largada.

No final, a sensação de que foram quebrados mais recordes mas, pelos métodos empregados, que os novos limites superados foram sempre os artificiais e não os naturais do homem. Apesar de não se poder esquecer do treinamento a que se dedicam.

De resto, devo um pedido de desculpas ao meu filho. Sempre procuramos educar nossos num clima de absoluta sinceridade. Mesmo quando ele teve que tomar uma benzetacil e perguntou se ia doer eu respondi que sim, e bastante.

Quando contava com 8 ou 9 anos de idade me fez uma pergunta que só da mente infantil pode brotar:

– Pai. Existe anão gigante?

Respondi que não, que seria um contra-senso, um anão gigante seria uma pessoa adulta normal.

Mas numa prova de levantamento de pesos vi um anão gigante oriental, não sei de que país, lutando contra seus flatos para erguer os halteres. Não deve ter passado das provas preliminares, porque não mais apareceu.

Então, meu filho, segue a retificação e o meu pedido de desculpas, embora com 10 ou 11 anos de atraso: anão gigante existe.





Publicado originalmente no blog Jus Sperniandi,
em 26/08/2004, tempo de Olimpíadas em Atenas, Grécia.