07/10/2007

A Culpa é dos Americanos


Nenhum fato social acontece sem que alguém tenha culpa. Essa é uma regra válida para todos os que habitam nesta terra. E o culpado é, geralmente, o outro. Esta a segunda regra.
Desculpem os dirigentes da República da Panákia se, porventura, eu estiver dizendo alguma heresia que contrarie a Constituição daquele país.
Eu não sou adepto da teoria das conspirações (o plural é de propósito), mas acho que os americanos são culpados de todo o mal que ocorre no mundo. Desde a peste suína que varreu o Brasil, se não me engano no tempo do Geisel, venho pesquisando a respeito e já descobri, de fonte segura, que no Norte do Estado do Oregon há uma cidade subterrânea habitada por famílias que vivem num regime de deliberada reclusão.
Completamente auto-suficiente, seus membros encontram nela de tudo o que precisam para uma vida saudável e abastada. Homens e mulheres que se destacaram na vida acadêmica vivem ali regiamente pagos pelo Governo com o objetivo principal de sabotar os países em desenvolvimento.
Descobri o nome da cidade: Ambush. Não adianta procurar no mapa. Os mapas são deficientes e confeccionados em papel e não permitem a inclusão de uma cidade subterrânea. Seria uma exigência absurda pretender que um mapa indicasse uma cidade sob a terra: ela estaria sob o mapa e não poderia ser vista. Elementar!
Minha mãe era tricoteira de primeira. Antigamente, na minha infância, se fabricava uma lã de excelente qualidade, daquelas que, com o uso, não criavam bolinhas. Depois de algum tempo todas elas passaram a ser de qualidade inferior e criar bolinhas. Por quê? Porque uma fábrica americana inventou um aparelho de extrair bolinhas de lã e precisava vender seu produto. As cabeças pensantes de Ambush descobriram um hormônio especial e o inocularam nas sementes das gramíneas que alimentam os animais tosquiáveis que vai refletir na lã produzida e o disseminaram pelo mundo. Desde então você pode comprar a melhor blusa do mercado que vai ter que comprar o aparelho de podar as bolinhas se quiser mantê-la sempre bonita e vistosa.
Ambush tem ligação direta com a estação polar americana no Pólo Sul, aí embaixo, perto de nós, e implementou um sistema que lhe permite influenciar no clima da região, criar frentes frias, ciclones, tufões e furacões.
Lembram do furacão Catarina? Foi a primeira experiência bem sucedida deles de exportar esse tipo de fenômeno climático para o Brasil que é, ou pelo menos era, um país livre dessas inclemências. Depois vieram mini-furacões em Criciúma e, mais recentemente, em Indaiatuba, São Paulo. Então, nesses casos, não adianta querer colocar a culpa no Lula, ou no PT, porque eles são completamente inocentes.
E há previsão de que outros ocorram no decorrer deste Inverno, mas isto ainda não é certo. Lidar com o clima é, até para os estudiosos de Ambush, muito difícil. O clima é instável. Mas eles, em cooperação com a estação polar, já estão começando a dominá-lo com alguma intimidade e dentro de alguns anos os furacões que agora assolam os EUA serão desviados para o Sul do Mundo sem que tenhamos que pagar qualquer taxa de importação.
Isto é só um exemplo. Há coisas mais graves que os americanos fazem contra nós, mas como a postagem deste blog é limitada a um determinado número de caracteres – coisa de americano! – sou obrigado a parar por aqui.
Se sou paranoico? Eu não. Nunca tive medo de ser perseguido.
Desde que voltei de Santa Catarina, há uns vinte dias, vivo no interior de uma sala secreta, à prova de furacões e outras ameaças, no porão de minha casa, com acesso à Internet (outra coisa que os americanos criaram para nos dominar). Ela é dotada de banheiro e de um certo conforto, é claro. Tem uma abertura por onde a dona Estela – nossa personal home – me serve o café da manhã, almoço e janta.
Assim protegido, como é que vou ter medo de perseguição? Estou mais seguro aqui do que vocês aí fora, vivendo perigosamente no descalabro desse mundo, ouvindo mentiras e lendo bobagens...



Publicada originalmente no blog Jus Sperniandi,
em 21/06/2005.

02/10/2007

LIRA DO POVO

Quem aprecia uma boa música, brasileira, de raiz, sem concessões comercialescas, límpida e cristalina, sem apelação, bem interpretada e extremamente agradável, não pode deixar de ouvir o cd "Lira do Povo", de Kátya Teixeira (seu site está entre os meus indicados desde o início do blog). Adquiri e ouvi. Várias vezes.

Ele não é só música. É um documento histórico importante e comovente, com manifestações populares e folclóricas de extremo bom gosto e sensibilidade. É universal no canto de várias aldeias – inclusive do primevo habitante desta terra – e há lugar garantido para ele em nosso meio cultural.

Para os que estão saturados de tchans, pagodes e de outras manifestações efêmeras da pseudomúsica em que se valoriza mais a bunda das dançarinas acompanhantes do que a qualidade da obra de arte, é uma alternativa sem precedentes.

A capa do cd, fora do convencional, também é primorosa: ele não vem naquelas caixinhas de plástico, mas num álbum que se desdobra em três partes, de papelão reciclado. As folhas do livreto vêm atadas artesanalmente, com vime.

Ouvi (e vi) Kátya Teixeira num programa – se não me engano Balaio Brasil, da Rede Senac – há alguns meses, e fiquei impressionado. Foi no lançamento do cd Katxerê que, infelizmente, está esgotado. Na época enviei e-mails a todos os meus contatos mais ou menos com o teor desta mensagem.

Ela esteve, há alguns anos, aqui pelo Sul recolhendo material para o disco. Só daí já se vê a seriedade do trabalho. Artistas desse naipe devem ser valorizados.

Ela esclareceu num e-mail: em minha breve passagem pela Barra da Lagoa e Lagoa da Conceição, das histórias que ouvi surgiu uma canção – Nas Teias da Renda – que está no primeiro cd, Katxerê.

No site, há faixas deste cd que podem ser ouvidas via Internet e delas é possível visualizar a qualidade da obra.

Sobre o lançamento de agora é ainda ela quem afirma: O cd Lira do Povo faz parte de uma trilogia que quero realizar, sendo que os outros dois só de cantos de trabalho e cantos religiosos e acredito que o Sul tem muito a oferecer.








Publicada originalmente no blog JUS SPERNIANDI,
em 11/07/2004, aqui.